Ao contrário da deputada Maria do Rosário, o seu então colega Jair Bolsonaro defendia punições mais severas para pessoas como o assassino e estuprador Champinha. No calor da discussão, a petista disse que o estuprador era ele. E recebeu como resposta algo como "só não te estupro porque você não merece".
Esse é um relato jornalístico que contextualiza os fatos como recomendou o Rasmus Nielsen, sobre quem falamos em postagem recente. Nem ela pensa que ele é realmente estuprador, nem ele ameaçou estuprá-la (ou não estuprá-la, sei lá). São dois desbocados discutindo, nada mais.
No entanto, uma pessoa desonesta pode selecionar apenas a parte em que ela o chama de estuprador e acusá-la de calúnia. Ou pode fazer de conta que só existe a frase final e dizer que ele é defensor do estupro (ou do não estupro, sei lá). E todos sabemos que posição a maioria de nossa mídia adotou.
Talvez essa já fosse a norma antes, quando não tínhamos fácil acesso a vídeos. Talvez a boca já estivesse tão torta que nem o fato de agora todos verem a caixa de charutos a fizesse mudar. Mas a questão é que essa parte da mídia brasileira decide de vez em quando que sua narrativa é o que deve valer.
Pode-se ver isso no caso da recente tragédia do Paraná. Se depender do nosso "jornalismo" é bem provável que você nunca fique sabendo que quem deu os tiros mortais era um antigo diretor da associação em que a festa era realizada, que apedrejaram um carro ou que o rapaz que acabou morrendo disparou cinco vezes.
Tudo é contado sem contexto (que não é obviamente sinônimo de justificativa), sem mostrar o cenário todo. É como se o sujeito surgisse do nada gritando o nome de Bolsonaro e atirasse no outro. Ou como se o deputado pegasse a incauta colega num beco escuro e só não a violentasse ao verificar que ela era feia demais.
Se esse pessoal já é ruim para contar o que houve no passado, imagine quando se trata do futuro. Eles escolhem algumas pesquisas eleitorais e se comportam como se elas fossem o registro fiel de fatos que já aconteceram, sem considerar o contexto em que as enquetes estão inseridas.
As pesquisas podem ser compradas. Mesmo que sejam realizadas com honestidade, podem estar equivocadas. As pesquisas recentes têm errado demais. Mesmo que nunca tivessem errado antes, poderiam errar agora. Pesquisas diferentes apresentam resultados muito diferentes e, portanto, não podem estar todas certas.
Todas são objeções razoáveis, que o Rasmus provavelmente recomendaria levar em conta. Mas existe uma ainda maior: nunca se viu, como agora acontece, um candidato popular fugir constantemente do contato com o povo e não ser abertamente defendido por uma grande parcela deste nas ruas.
Os desonestos não mencionam esse cenário de fundo. Mas ele acaba aparecendo quando eles falam de outra coisa e se distraem. É o caso do petista que, ao contar como está defendendo sua seita na igreja ou no condomínio, acaba invariavelmente revelando o quanto é minoritário nesses ambientes reais, entre pessoas de verdade.
Nesse sentido é que vale a pena ler o que conta o tal Matheus Pichonelli em seu último artigo no UOL. Ele viajou para o enterro da vó e... leia lá.
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