sábado, 18 de junho de 2022

Os brasileiros evitam o noticiário

Recomendo que você clique AQUI e perca alguns minutos lendo o artigo publicado no UOL sobre o tema do título, basicamente uma entrevista de Daniela Pinheiro com Rasmus Kleis Nielsen, diretor da entidade que coordenou a pesquisa mundial que ouviu 93 mil pessoas em 46 países. A seguir, alguns destaques comentados.

Em média, 38% dos entrevistados disseram que frequentemente ou às vezes evitam buscar informações sobre certos assuntos — sobretudo quando se trata de política ou da pandemia. Para eles, esse tipo de jornalismo é "deprimente e repetitivo". Ironicamente, são esses os temas que costumam parecer mais sérios ou importantes para os jornalistas.

É mais uma questão de abordagem, Daniela, creio que seria diferente se vocês mostrassem imparcialidade e não entrassem nessa de que devem instruir os selvagens.

No Brasil, verificou-se o percentual mais alto de toda pesquisa: 54% dos entrevistados afirmam "evitar" o noticiário de propósito (o dobro do que em 2017).

O mais alto do mundo!? E começou depois que vocês, militantes de redação, passaram a tentar derrubar o então candidato que hoje ocupa a presidência? Nossa, que surpresa! Será que as pessoas perceberam a desonestidade?

Na direita, a maioria diz não ver porque tudo o que é publicado é mentira. Também parece haver uma ligação clara entre a desgovernança e a credibilidade jornalística. Mais confusa a política do país, mais aversão às notícias. A saber: o Reino Unido de Boris Johnson teve 46% e os Estados Unidos de Trump, 42%. Países de clima político menos volátil — Japão, Dinamarca e Finlândia —, pontuaram na casa dos 60%.

O legal é que a Daniela nem percebe que sua credibilidade vai para o espaço ao qualificar de "desgovernança" a linha política que não agrada sua turminha. Também aqui, Dani, quem lacra não lucra.

O estudo mostra que no Brasil os veículos de imprensa mais confiáveis são o SBT e a Record, ambos escancaradamente apoiadores do governo Bolsonaro. O que isso que dizer?

Acho que quer dizer que as pessoas apoiam Bolsonaro e já perceberam quais são os veículos que apoiam escancaradamente o retorno da bandalheira lulopetista.

Apenas 23% dos entrevistados no Brasil dizem considerar as empresas jornalísticas neutras ou apartidárias. Isso é bom ou ruim?

Precisa responder? Mas deixemos a Dani e vejamos também o que diz o Rasmus, que parece meio politicamente correto, mas é bem mais ponderado que a militante do UOL.

É muito difícil ser jornalista, sobretudo nos últimos anos, sobretudo num país como o Brasil. O que eu diria é que, ao cobrir governos populistas, o ideal é reportar o que o governante faz, não o que ele diz. Populistas têm uma estratégia de usar as palavras e dizer coisas absurdas com um propósito específico. Quando apenas se reproduz suas frases, entra-se no jogo deles. Isso não é útil nem importante para o público do ponto de vista da informação. Muitas vezes, eles dizem coisas tão absurdas, que precisam ser reproduzidas pela imprensa. Mas elas precisam de contexto, de detalhe, de explicação.

Isso, Rasmus, palavras não são atos.

A outra coisa que eu diria é que é uma questão de escolha. Algumas atitudes de certos políticos são chocantes, ofensivas, perturbadoras, antidemocráticas, para as pessoas que acreditam e defendem a integridade do processo eleitoral, por exemplo. Quando uma autoridade política, sem qualquer evidência, diz que as eleições foram fraudadas, por exemplo, deve-se noticiar isso? Isso é um bom exemplo do que é chamado de clareza moral. É preciso ter claros os valores que você defende, nesse caso, a democracia, e ser muito explícito na hora de confrontar uma afirmação dessas.

O Rasmus deve conhecer a nossa situação pela cobertura da imprensa, sem imaginar que nosso sistema butanês não pode ser auditado. Vamos desculpá-lo por ignorar o contexto em que a fraude pode prosperar.

Não é fácil confrontar autoridades, mas é o que fazem muitos jornalistas que respeito. A outra maneira de fazer isso é entender que faz parte do repertório dos populistas dizer absurdos e não cabe ao jornalista fazer julgamentos, e sim aos cidadãos. O trabalho do jornalista é fazer com que o público entenda o contexto, o que está por trás. É uma escolha editorial.

"Não cabe ao jornalista fazer julgamentos, e sim aos cidadãos." Hahaha. Na cara não, Rasmus. Mas não se preocupe que a Daniela não entendeu.


Nenhum comentário:

Postar um comentário