quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Zumbi estragou tudo

Nunca houve essa história de que "o povo negro" tomou consciência de sua exploração e se revoltou contra os brancos opressores. Começa que os africanos não se viam como um só povo, mas como integrantes de tribos ou nações que viviam guerreando entre si e escravizando umas às outras.

Esses costumes foram inclusive mantidos por aqui, com negros escravizando ou tentando escravizar outros negros. Exemplo disso são os malês, muçulmanos que se revoltaram na Bahia em 1835, cujo objetivo era libertar os da sua fé e escravizar os demais, que apenas mudariam de dono.

O critério dos malês era a religião. Mas qual teria sido o utilizado cerca de dois séculos antes no Quilombo dos Palmares, onde a revolta funcionou e para onde todos os negros podiam ir, mas alguns eram livres e outros não?

Segundo consegui levantar, quem chegasse a Palmares por conta própria era livre. Mas eles também atacavam fazendas e deixavam que os escravos destas escolhessem se queriam segui-los ou não. Se quisessem, se tornavam quilombolas como eles; caso contrário eram levados à força e passavam a ser escravos dos livres.

Era um sistema que respeitava as preferências individuais: você quer ser livre, está livre; você quer se manter escravo, passe a ser meu escravo. Mas a curiosidade é que tinha negro que preferia continuar onde estava.

Imagine a situação, o cara está lá trabalhando feito um animal e tomando chibatada no lombo, chega alguém e diz: "venha, irmão, venha viver livre junto dos seus, venha festejar, comer cacacá, dançar popopó e apreciar as estrelas nas noites quentes do verão". E o sujeito responde: "não, obrigado, estou de boa aqui na senzala".

Ou a vida de escravo no engenho não era tão ruim ou a de homem livre no quilombo não era tão boa. Ou todas as opções anteriores. Ou, quem sabe, uma opção da qual não se fala, que era do escravo de algum modo ganhar sua liberdade.

Palmares durou de 1590 a 1694. Foi durante esse século que os holandeses chegaram (1624) e acabaram sendo expulsos do Brasil (1654), numa luta em que, como contou a professora, os brancos (portugueses/brasileiros) foram auxiliados pelas tropas indígenas de Felipe Camarão e as de negros (livres ou escravos) de Henrique Dias.   

Ou seja, havia negros livres na época. O que não surpreende porque os portugueses eram pragmáticos nessas questões. Prova disso é que em 1678 eles fecharam um acordo pelo qual, em troca de não atacar mais ninguém e não aceitar mais escravos fugidos, o pessoal de Palmares formaria na prática um reino vassalo de Portugal.

Seu rei seria Ganga Zumba, que já exercia esse papel e vislumbrou a oportunidade de criar algo diferente. Mas ela foi perdida porque Zumbi, seu sobrinho baderneiro, mandou envenenar o tio para continuar invadindo propriedades e arrumando briga. Acabou estragando tudo. É que ele tinha consciência, sabe?

FEB africana

Na minha rápida pesquisa, encontrei algo que eu não sabia e creio que a maioria também não. A primeira força expedicionária brasileira não foi a enviada para livrar a Europa dos nazistas, mas a que libertou, trezentos anos antes, Angola dos holandeses.

Em 1648, após reunir uma força que, como no Nordeste, incluía negros e "índios com cocar", o governador Salvador Correia de Sá e Benevides (da família do Mem e do Estácio) atravessou o oceano e expulsou os holandeses que haviam tomado Luanda e outras regiões estratégicas de Angola.

Índios brasileiros com cocar atacando holandeses a flechada na África. Parece uma coisa meio Hércules contra os incas venusianos. Isso sim merecia ser lembrado por um feriado, não o xaropão do Zumbi.


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