quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Tramoias semânticas

Eles demoraram a encontrar o termo mais adequado aos seus objetivos, mas "trama golpista" é muito bom. A lei diz que você tem que pelo menos tentar cometer o crime para ser condenado por ele, o que era um problemão para quem vendia a narrativa do "golpe" sabendo, como todos sabem, que ela era falsa.

Tivemos até um momento de humor involuntário quando, para remover esse pequeno entrave, lançaram aquela de que "tentar" é diferente de "atentar" e no caso de um golpe você sempre julga a tentativa frustrada, pois se ele for bem-sucedido os golpistas não se julgarão a si mesmos.

A afirmação foi recebida como uma revelação pelos patetas que não conseguem raciocinar, mas era absurda porque uma coisa não tem nada a ver com a outra; se um golpe der certo os golpistas não se autojulgarão, mas você não pode julgar alguém como golpista sem que ele tenha botado o bloco na rua e tentado dar um golpe.

A "trama golpista" veio para resolver esse problema, basicamente porque não exige o bloco na rua, traz tudo para uma fase de mera cogitação e é ampla o bastante para abarcar o que se queira. Aqueles dois caras conversaram tal dia, fulano disse algo que incentivou a velhinha a protestar... qualquer coisa pode ser incluída na "trama".

É evidente que a expressão não faz parte das leis, pois estas precisam ser claras e isso é tudo que seus criadores procuram evitar. De acordo com a lei o foro é inadequado, não há possibilidade de recurso (o que já afronta todos os tratados sobre direitos humanos) e por aí afora, numa lista que o juiz Fux levou horas para esgotar. 

Mas agora nossas supremidades avançaram outro passo e incluíram até quem faz objeções ao sistema eleitoral entre os alvos de suas tramoias com as palavras. Você não pode apontar o que lhe parecem ser falhas no processo, tem que concordar com tudo o que as atuais autoridades fizerem, pois "criticar a urna eletrônica é crime".

Em que lei está escrito isso? Em nenhuma, certa ou errada a pessoa pode pensar o que quiser sobre um mecanismo desses. A urna eletrônica não é um ser humano com dignidade intrínseca a ser respeitada. Criminalizar a opinião de alguém sobre ela constitui uma evidente violação aos direitos humanos. Mais uma.

No entanto, nossa grande mídia noticia o acontecido como se fosse algo corriqueiro porque apoia politicamente os violadores. E os patetas aplaudem porque não sabem o que acontece no resto do mundo e foram ensinados pela novela que a urna eletrônica é um orgulho brasileiro que outros países não conseguem copiar e invejam. 

Nem mesmo lhes ocorre que um julgador que deturpa as palavras e inventa leis a seu bel prazer hoje pode amanhã inventar uma contra eles, ou contra seus filhos ou netos. Pode ser que um dia descubram, quem sabe? 

Ops, já ia esquecendo: vem aí a criminalização da "desinformação". O que é desinformação? É o que alguém quiser que seja.


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