Quando meus avós nasceram, aí pelo início do século 20, os aviões estavam quase voando e já havia automóvel, cinema, telefone e luz elétrica. Mas todas essas coisas ainda eram novidades que pessoas como eles, que não viviam nos grandes centros, em geral só foram conhecer alguns anos mais tarde.
Depois chegou o fantástico rádio, nome tão mencionado pelas pessoas da época que meu pai o deu para o cachorro que ganhou na infância. E tudo foi rapidamente se aperfeiçoando; o cinema ganhou som e cor, os engenhos voadores viraram aviões de passageiros ou bombardeios, as bombas que estes carregavam se tornaram atômicas.
Quando nós nascemos o homem já viajava pelo espaço e muitas residências tinham TV, o grande ícone deste novo tempo. Outra vez, nem todas. Os primeiros aparelhos eram relativamente caros e as retransmissoras se concentravam nas maiores cidades. O censo de 1970 encontrou apenas 4 milhões de telinhas entre os "90 milhões em ação"; mas isso logo iria mudar, progredir também.
O homem desceu na Lua, a TV se coloriu e barateou, os cérebros eletrônicos foram ganhando potência e perdendo tamanho, apareceram as impressoras, os celulares. E em algum ponto deste caminho nossos avós se foram, convencidos, como nós igualmente estávamos, de que tudo iria sempre evoluir.
Não deixa de ser verdade, só que algumas tecnologias evoluíram tanto que, ao contrário do que era normal em nossa milenar relação com as invenções, fomos nós que as vimos nascer e morrer. O grande exemplo disso é o fax, que passou de maravilha revolucionária a trambolho desnecessário em alguns poucos anos.
Quem te vê
Já tive até uma na cozinha, de tubo, dispensada anos atrás. Tenho hoje a TV principal, que se eu não ligar para ver futebol ninguém liga (fiz a experiência nas últimas semanas). Tenho outra na sala ao lado do pátio, onde os meninos jogavam videogame e eu via o que queria sem incomodar ninguém, ainda menos usada. E tenho uma terceira, nova, que tinha outro destino e acabou encostada num canto.
No que me consta, a TV é o novo fax, algo que praticamente morreu em seu formato original e só sobrevive dividido em suas funcionalidades. É assim para muitos outros, há quem só ligue o aparelho para ver seriado da Netflix, há quem o utilize como tela para ver vídeos do Youtube.
Sobre este último ponto, aliás, o Ibope/Kantar já detectou várias vitórias do Youtube sobre a TV. E a Globo se opõe ferrenhamente, forçando até demissão de diretor, a que o instituto mensure quantas pessoas assistem TV com o celular ligado na mão, principalmente pelo que todos intuímos que acontece na hora do comercial.
É verdade que milhões ainda veem o mundo apenas pelas Globos da vida, mas esses são como os que não tinham TV em 1970. A situação se alterará com rapidez e reflexos que se estenderão inclusive à política, pois hoje quem se informa sobre o tema pela TV tende a apoiar o PT e quem o faz pelas redes se torna antipetista.
De qualquer modo, a TV que também era novinha quando a maioria de nós a conheceu na infância, a caixinha em torno da qual a família se reunia e tudo girava, está a caminho do fim. Parecia eterna, mas pode acabar se despedindo deste mundo antes de nós.

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