quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Interferência exterior

A tarifa de 50% que o governo Trump aplicou a setores da economia brasileira é composta de duas partes: 10% são devidos a questões comerciais; os outros 40% se juntam a medidas como a Lei Magnitsky e as retiradas de vistos, adotadas para tentar evitar o desrespeito aos direitos humanos e as restrições à liberdade de expressão.

O que o sujeito que está lá trabalhando num dos setores afetados tem a ver com isso? Em princípio, nada, ele pode ser até contrário ao que acontece. Mas sanções contra um país são assim mesmo, uma espécie de cerco policial que pode causar problemas ao habitante do morro, mas visa libertá-lo da facção que controla a região.

Ôpa, mas a polícia age com base legal, existe alguma lei internacional que justifique uma interferência externa? Em parte, sim. O Brasil é signatário de tratados que estão sendo abertamente violados quando pessoas são julgadas sem possibilidade de recurso ou restrições à livre expressão são impostas contra a lei do próprio país. 

A parte que não existe, e sempre depende de escolhas políticas, é a que determina a punição externa a essas infrações. Nesse sentido, as sanções são um chumbo trocado: enquanto você sacanear aí, eu, dentro do meu direito, sacaneio não comprando de você aqui. Foi assim que a Europa respondeu a Putin e os EUA ao regime pt-stf.

Ressalte-se o "dentro do meu direito", pois o direito de um país é similar ao seu, que pode deixar de frequentar um restaurante porque o comportamento do gerente não lhe agrada. O sujeito que decida se quer se corrigir e recuperar o cliente. E ele é o verdadeiro responsável pelo eventual desemprego do garçom.

Outro aspecto da questão envolve o apoio interno à sanção externa. É comum que o dirigente do país sancionado e seus apoiadores apelem ao argumento do patriotismo, mas o que significa ser patriota quando os abusos punidos são reais? Seria fechar os olhos para as injustiças cometidas porque elas não o atingiram diretamente? 

Creio que não, até porque o arbítrio que castiga seu vizinho pode se voltar contra você. A velhinha cujo sofrimento você despreza porque não a conhece pessoalmente pode ser amanhã a sua mãe que reclamou do preço do tomate no mercado (ou tomou alguma outra atitude que passou a ser considerada perigosa pelos donos do poder).

Já está assim, pelo menos em termos de liberdade de expressão. Afrontando a lei e os tratados acima referidos, os violadores já decidiram que postagens indevidas devem ser retiradas das redes sem necessidade de processo judicial. O que é indevido? É o que eles quiserem que seja.

Para encerrar com um exemplo histórico bastante conhecido, quem seria o patriota aí por 1943? O francês que defendia o regime colaboracionista de Vichy? Ou aquele que, mesmo sem ter sido diretamente atingido pelas barbaridades por ele cometidas, torcia para que os americanos invadissem seu país?

Esclarecimento

Informamos que não procede essa história de que o descondenado não soube do que aconteceu no Rio de Janeiro porque estava voltando da Malásia e fica incomunicável em seu dispendioso avião. Não é nada disso, ele só não se manifestou imediatamente porque estava em horário de almoço. E parece que ainda está.


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