domingo, 19 de outubro de 2025

Caderno cultural

No início dos anos 70 já havia casas noturnas onde as pessoas dançavam animadamente e bandas, em geral de negros americanos, dedicadas a este público. Mas foi um filme lançado em 1978 que fez as discotecas e o tipo de música que as caracterizou se espalharem pelo mundo como uma epidemia.

Embalos de Sábado à Noite foi uma bomba atômica. De um dia para o outro brotaram locais, fãs e grupos musicais que pareciam existir há décadas. A próxima novela da Globo foi Dancing' Days. John Travolta acabou indicado ao Oscar de melhor ator - experts protestaram, indignados: "ele não é ator, só um dançarino bonito". 

Muitos aqui já devem saber, mas tudo isso começou quando o sujeito que acabaria produzindo o filme estava em Nova York e comprou uma revista onde leu um artigo sobre uma subcultura desconhecida da elite de Manhattan, cujos adeptos viviam principalmente no Queens e se reuniam para dançar em seus clubes nos finais de semana. 

O autor do artigo chegou a fazer amizade e andar algum tempo com um dos caciques dessa tribo, um rapaz ítalo-americano que tinha um emprego comum e uma vida modesta, mas nos sábados à noite se vestia a caráter e reinava nas pistas.

Surgia o Tony Manero do filme. Mas o interessante é que anos depois, em uma entrevista, o escritor confessou que o tal rei da discoteca nunca existiu, foi apenas um personagem que ele criou para enriquecer sua história. Uma ficção gerou outra ficção que acabou por criar um fenômeno mundial.

E veja como são as coincidências. Nesse mesmo ano de 1978, um jovem de 32 anos que havia herdado o negócio de construção que o pai levantara no Queens atravessou a ponte e começou a atuar em Manhattan. Um tal de Donald Trump.  

Pois quando Trump tinha 16 anos, em 1962, o Copacabana Palace hospedava o jet set internacional e dava festas temáticas de altíssimo nível. O produtor de uma delas contratou dois rapazes para fazer uma música sobre um ET - talvez na época fosse "marciano" - que vinha para a Terra em busca de sua amada perdida.

Chegando aqui, ele ficava observando as belas garotas que passavam e lamentando sua tristeza e solidão. Mas quem se entristeceu foram os músicos, pois o espetáculo foi cancelado e eles tiveram que dar adeus ao cachê pelas apresentações.

Bem, o valor adiantado dava para tomar uns chopes. E era isso que eles estavam fazendo quando se encantaram com uma menina de 17 anos que entrou no bar para comprar cigarro - naqueles tempos bárbaros uma menor podia fazer isso, o civilizador Barrosa ainda usava roupinha de marinheiro.

Inspirados por sua graciosidade e com a música na cabeça, eles deixaram a parte em que o ET-marciano se perguntava "por que estou tão sozinho, por que tudo é tão triste?" e mudaram o resto. 

Alteraram inclusive o título, de Garota que Passa para Garota de Ipanema, a música brasileira mais conhecida neste planeta. Talvez também no planeta de origem do ET, disso não temos certeza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário