terça-feira, 30 de setembro de 2025

Revela-se pelo que esconde

Quantos eventos importantes aconteceram no passado e ninguém ficou sabendo porque dois ou três senhores decidiram que eles não seriam mencionadas em seu jornais? Não havia internet para você ter acesso a publicações alternativas. Surgiram o rádio e depois a TV, mas seus donos quase sempre eram os mesmos dos jornais.

Hoje as coisas não são perfeitas, mas melhoraram bastante. A tal ponto que, no Brasil atual, com consórcio de imprensa bancando a turma que dá golpe eleitoral e condena suas vítimas por golpismo, você muitas vezes consegue ter mais noção da importância de um assunto conforme ele some do noticiário oficial.

A dosimetria, por exemplo, submergiu. A desfaçatez de condenar inocentes a penas altíssimas para depois acertar pela metade não teve a acolhida que o consórcio esperava. Ressuscitar Temer e Aécio para defender a ideia em nome de um autointitulado "centro" ficou ainda pior. Paulinho continua na luta, mas sem publicidade oficial.

Mais difícil é justificar o pouco destaque conferido à Lei Magnitsky. Nossos bancos estão prestes a tomar multas bilionárias, Xandão e sua esposa têm tentado (e não têm conseguido) fugir da merecida punição criando novas empresas e novos sites, outros violadores de direitos humanos podem ser enquadrados em breve. Mas você só consegue acompanhar todos os desdobramentos desse caso pela internet.

Tagliaferro também é um nome proibido. Lauro Jardim o menciona no Globo de hoje meio por alto, como delator de uma "suposta" estrutura de perseguição montada para "derrotar o bolsonarismo" na eleição de 2022. Mas eu aposto que muita gente que só se informa pelos jornalões não sabe nada além disso sobre o sujeito. Ou sabe, mas o considera um criminoso que fugiu para a Itália.

E assim é com outros assuntos. Houve um tempo em que pensávamos que a mídia funcionava ao estilo consagrado no caso Watergate, dedicando-se a revelar fatos que de outro modo permaneceriam escondidos. Hoje sabemos que nós é que precisamos descobrir o que ela está tentando acobertar.

*   *   *   *   *

Tentando justificar parte das atrocidades que cometeu em uma entrevista, Barrosa se saiu com esta: Trump está mal informado sobre o que acontece no Brasil e não sabe que houve até uma tentativa para matar o presidente.

Já é muito considerar que o homem mais poderoso do mundo é um desinformado, mas falar em "tentativa"? PQP, a palavra tem um sentido claro, insofismável. Discutir com o colega de time se é melhor bater a falta no canto do goleiro é pensar no assunto, mas você só vai "tentar" se efetivamente chutar naquela direção, se agir.

Os entrevistadores deveriam dizer isso a ele e apertá-lo. Mas não dizem porque são omissos, cúmplices dessas interpretações ridículas das palavras e das leis que as utilizam. É disso que se alimenta o monstro do verdadeiro golpe. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário