Alô, Donald, bom dia. Desculpe incomodá-lo, mas como os jornais estão dizendo que você agora atende a sugestões de qualquer Joe brasileiro (não o Biden, haha), aproveito para deixar humildemente a minha. Ela é bem simples: inicie pelo Gonet. Beleza? Era isso, respeitos pra dona Melania e os filhos. Um abraço.
Na próxima cena de um daqueles filmes em que a história é contada sob vários pontos de vista, o texto acima cai na mão de militantes de redação que reagem às gargalhadas: "Olha aí o idiota insignificante achando que o Trump vai atendê-lo", "foi passear na Disney e quer tirar a vaga do Pateta", e por aí afora.
Semanas depois, Trump sanciona Gonet, família e papagaio. Com a insegurança jurídica, os importadores americanos puxam o freio. E as manchetes mudam: "Falso patriota, Emílio Mil ataca a soberania do Brasil", "Sanções prejudicam exportações e empresários se irritam com Emílio Mil e toda a sua família", algo assim.
Voltando ao nosso ponto de vista, o Gonet não é o chefe, mas está fazendo por merecer. Não é o cabeça, mas foi o primeiro a levantar oficialmente a cabeça nesta batalha decisiva. Portanto, flecha nele que é para os outros não terem dúvida do que os espera quando (ou se) resolverem também encarar.
Agora os empresários. Do setor agrícola, todos indignados. Logo eles, antipetistas, milistas de fé, traídos por um Mil. "Temos que deixar nossas diferenças de lado e apoiar o presidente como diz a imprensa" discursa sob aplausos o mais velho. Um outro diz que seria melhor mandar seus deputados e senadores aprovarem a anistia aos perseguidos políticos para se acertar com o Trump, mas ninguém lhe dá atenção.
Bom, eu avisei que o filme vai mudando de perspectiva sem avisar. Essa última cena não é realmente de uma reunião da turma do agro, mas de como um militante de redação sonha que deveria ser uma delas. Desejo e fatos se misturam e você precisa prestar atenção para tentar entender. É mais ou menos como a denúncia do Gonet.
Velhos tempos
"Os direitos humanos são a alma de nossa política externa… porque os direitos humanos são a alma de nosso senso de nação", disse o presidente americano, pressionando certos países a restabelecerem a democracia. "Não admitimos ingerências externas, nossa soberania está acima de tudo", respondeu o presidente brasileiro com total apoio da Globo.
O presidente americano era o Jimmy Carter, o brasileiro era o Ernesto Geisel, e a Globo era a Globo. O ano era 1977 ou 1978. Em 1979 Figueiredo assumiu e foi aprovada a anistia - não para velhinhas que reclamavam, que na época não se condenava ninguém por isso, mas inclusive para terroristas e assassinos.
Agradeço ao gordão do Ancapsu pela lembrança do Carter.

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