terça-feira, 10 de junho de 2025

Sem entusiasmo

Não sendo substantivo, como a lei exige que seja um crime, o "golpe" (hoje "trama golpista") sempre foi literalmente retórico. Uma reunião para tratar do possível uso de medidas constitucionais se tornou uma reunião golpista onde se discutiu uma minuta golpista, uma conversa de bar virou uma conversa golpista etc.

Mesmo que você estique a legislação a ponto de arrebentá-la e considere que seria crime solicitar ao Congresso a aprovação das tais medidas, nem isso foi feito. Agora parece que não existe nem a "minuta". E nunca houve nada remotamente parecido com a tentativa que a lei e a lógica exigem para que se comece a falar em crime.

Consciente de que as acusações são ridiculamente frágeis, o juiz-promotor-vítima chegou ao cúmulo de dizer que este é um caso em que o crime não se concretizou, mas não é necessário provar que houve uma tentativa de realizá-lo porque.. bem, porque tentar é diferente de atentar!!! 

Em outros tempos, bastaria uma declaração dessas para que uma imprensa que zelava por seu nome acabasse com a carreira do sujeito. No entanto, em outra sacanagem com os patetas incapazes de raciocinar por conta própria que apenas repetem o que escutam, nossa grande mídia fingiu não ter percebido a besteira.

Nenhuma novidade nisso. Saudosa dos amigos tucanos e/ou da dinheirama petista, foi a mídia quem passou a adjetivar tudo como "golpista", fechou os olhos para a condenação de pessoas desarmadas por algo que exige armas e todo o restante. Engolir o "tentar e atentar" só deve ter exigido mais um esforcinho. 

Mas chega um ponto em que os halteres começam a pesar e creio que ontem foi um desses dias. As manchetes pouco mudaram e continuam a utilizar interpretações enviesadas para sugerir a existência de crimes. Porém os textos como um todo parecem meio desanimados enquanto pulam rapidamente de uma "prova" para outra.

Numa comprovação desse sentimento, encontramos hoje em O Globo a seguinte notícia: "Análise: ministros terão que pesar provas ao avaliar depoimento do delator Mauro Cid - Legislação brasileira trata declarações de delatores com suspeição e outras provas são necessárias para condenação."

É claro que os ministros "teriam" que pesar se seguissem a lei, coisa que até agora se negaram a fazer. Mas só o fato de um integrante da cúpula midiática lembrar que a bobajada obtida com as ameaças aos familiares do Mauro Cid ainda precisaria ser provada indica um certo incômodo com essa sucessão de arbítrios e irregularidades.

Nada sugere, a essas alturas, que essa falta de entusiasmo redundará na absolvição dos acusados. Para gáudio dos degenerados morais que vibram com a libertação de criminosos e a condenação de inocentes, continua mais fácil obter um julgamento justo em um tribunal do PCC.

Mas algo mudou, a convicção com que se vendia o peixe podre do "golpe" se foi. Talvez os defensores dessa patacoada tenham tido um súbito ataque de decência. Talvez estejam com receio de acabarem também julgados sem direito a apelação por uma força que está acima deles - abaixo, no mapa do Poximan.


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