Jornal nunca foi livro de história, você lia e usava depois para embalar carne no açougue ou forrar a cama do cachorro. E uma das vantagens disso, para os editores, era poder dizer uma coisa hoje e outra oposta na semana seguinte sem receio de que ninguém lhes jogasse na cara as contradições.
Alguém poderia assinalar a incoerência para os conhecidos, mas estes poderiam duvidar de sua memória e mal lhe dariam atenção. E enviar uma carta indignada para a seção de leitores era ainda menos eficiente, pois bastava a turma do jornal jogá-la no lixo e escolher duas ou três mais fáceis de responder.
Mas aí chegou a internet e os jornais e correlatos descobriram que os seus clientes querem comentar o que leem. Existem até casos em que a leitura é grátis, mas os comentários são reservados para assinantes. E existe o X, onde os jornais publicam resumos de suas notícias e se expõem à opinião da multidão.
É um novo mundo e eles sabem disso. Mas a situação antiga era tão confortável que eles frequentemente não resistem e preferem apostar que o pessoal vai esquecer o que fizeram no verão passado. Calcule, por exemplo, o que estão dizendo sobre o editorial que o Ex-tadão resume com a seguinte frase:
Quem tinha alguma expectativa de que o novo governo de Lule pudesse ser responsável e prudente para manter o poder de compra da moeda, ou era ingênuo, ou era mal informado.
Ou as duas coisas, né Ex-tadão? Mal informado por você e ingênuo por acreditar quando você fazia o L e defendia o que qualquer pessoa razoavelmente inteligente sabia que aconteceria. Nesse momento, com poucas horas no ar, o tuíte tem 1,5 k de comentários e a maioria deles vai nessa linha.
Para piorar, a minoria é quase toda formada por asnos petistas que realmente esqueceram o apoio do jornal ao regime PT-STF e o atacam por estar criticando o seu ídolo ladrão. Não li todos, é óbvio, mas não deve ter um comentário que diga "é isso mesmo, vocês têm toda a razão".
Para deixar ainda pior, a questão econômica é o de menos. Onde eles mais estão rebolando é no ataque ao projeto de anistia, que os obriga a requentar a narrativa mentirosa do "golpe" das velhinhas desarmadas num momento em que parcelas crescentes da população tomam consciência do que verdadeiramente aconteceu.
Percebe-se, pelo tom das matérias, o pavor de que a chave vire de vez um pouco mais à frente e eles não venham a ser cobrados, antes do que pensavam, apenas por leitores indignados. Quem diria que iriam ter saudades daquele tempo em que viravam lixo reciclável no dia seguinte?

Nenhum comentário:
Postar um comentário