quinta-feira, 27 de março de 2025

Isso seria suficiente

Se o chocolate do embaixador era Ferrero Rocher, o do ministro é Kinder Ovo, aquele que você abre e tem uma surpresa dentro. As crianças adoram, o problema é quando a surpresa é um vídeo editado que aparece de repente como "prova" no meio do "julgamento" que o ministro conduz como bem entende.

A gente poderia dizer que "só isso seria suficiente para anular toda essa farsa", mas já tem tanta coisa suficiente para anular essa farsa que a frase virou um lugar-comum. Quem denuncia a irregularidade sabe que não adianta nada. Quem a defende faz de conta que não a percebeu.

A turma dos denunciantes tem uma psicologia mais simples. Ali está aquele pessoal que preza a honestidade intelectual, tenta pensar por si próprio ao invés de repetir o que diz o jornal ou a TV, consegue entender os conceitos basilares do direito e perceber a diferença entre o que está acontecendo e o que dizem as leis.

Sua única divisão (na verdade, uma graduação) é entre conformados e revoltados, entre os que se prostram inertes e os que rangem os dentes sonhando com a vingança. No meio, entre outras subdivisões, estão os que procuram alternativas para minimizar os danos que consideram inevitáveis.

Já entre os defensores da pilantragem a coisa é mais complexa. Como dizem os atores, os personagens bondosos são previsíveis e não admitem muitas variações, é ao interpretar o papel de um malvado que o artista consegue realmente mostrar seu talento e sua versatilidade.

Existem os canalhas que têm um plano na cabeça e acham necessário mentir para realizá-lo. Nem todos se filiam àquela conhecida linha ideológica, mas todos concordam com sua máxima de que falar a verdade é asneira burguesa, coisa de gentinha desprezível. Eles se sentem superiores ao ver o triunfo de sua mentira.

Outros defendem a pilantragem por dinheiro. Seu pai ou sua consciência pergunta: "Como você consegue ajudar a condenar quem nada fez?" E ele responde: "É o meu trabalho, onde eu vou arrumar quem me pague 20 mil se o jornal me demitir?" O 20 pode ser 6 ou pode ser 110, não importa, a desculpa é a mesma.

Nem todos são apenas ideológicos ou apenas vendidos, o bolo podre final é o mesmo, mas há várias maneiras de misturar seus ingredientes. Como se disse, eles são mais complexos. Tanto que seu grupo ainda reúne um terceiro tipo psicológico que não tem complexidade alguma.

Esses são os que defendem o que está acontecendo porque "as autoridades" disseram que aquilo está certo e as autoridades (o juiz, o jornal etc.) "sabem melhor que nós". Essa é a jumentada, o gado que vota num ladrão milionário "porque ele é pobre como nós" e sustenta por seu número a pirâmide da mentira.

Mentalmente são crianças, adoram julgamentos com surpresas ao estilo Kinder Ovo.


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