quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Golpe Baixo

As novelas de TV começam com um roteiro que o autor pretende seguir até o fim, mas ele escreve os capítulos aos poucos para eventualmente adaptar a história ao gosto do público. Um personagem secundário pode ganhar destaque, alguém dado como morto pode reaparecer, um vilão pode ficar bonzinho, até o par romântico pode mudar.

Nesse sentido, Golpe Baixo (nome que deixamos como sugestão) é uma novela como qualquer outra. No seu roteiro original, por exemplo, o 8 de janeiro seria transformado no Dia da Defesa da Democracia, uma data a ser comemorada por multidões nas ruas e louvores ao STF. Mas apesar da intensa campanha publicitária, a narrativa não emplacou e os autores tiveram que abandoná-la.

E assim foi com a minuta do golpe, a repentina introdução dos perigosos kids pretos, o táxi que não parou (coisa que só acontece em novela) e o restante do melodrama. Imagine então o que poderá acontecer quando chegarmos aos capítulos finais, aos "momentos decisivos", como dizia o locutor da Globo. Eu tenho algumas sugestões.

Irmão sem coragem

Os comandantes das nossas FFAA saem de uma reunião em Washington declarando que nunca admitirão qualquer golpe, venha ele do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário, pois este também pode dar golpes. E agora? Isso será uma indireta sobre o julgamento que está por começar? Os repórteres se entreolham e um deles faz essa pergunta, mas o capítulo termina antes que o general possa responder.

O retorno do Jedi

Inicia-se o julgamento e a palavra é dada à equipe de defesa. Mas quem a toma é alguém que estava sentado entre os assessores anônimos, atrás, nas sombras, que fala enquanto vai descobrindo a cabeça e se dirigindo ao centro do palco:

- Este julgamento é uma farsa política, esta acusação é inepta, estes acusados deveriam responder em primeira instância. Este tribunal está desmoralizado pela parcialidade. E eu voltei para fazê-lo ser respeitado como antes.

- Marcus Aurelius! - é Marco Aurélio Mello, mas o nome precisa ser adaptado para a novela - então você não estava juridicamente morto!? 

O direito de delatar

Após relatar os crimes de que os réus são acusados, o promotor se vira para o banco das testemunhas e indaga dramaticamente:

- Eles não fizeram tudo isso, Mauro Cid? - esse nome não precisa mudar, é tão novelesco quanto Albertinho Limonta.

- Não, não fizeram. Eu fui coagido, ameaçado e torturado, obrigado a mentir. Mas só vou falar a verdade agora que minha família está nos EUA e seu futuro está garantido pelo Elon Musk. Minha delação é falsa, nada daquilo aconteceu. 

Todos ficam paralisados, expressões de espanto. O que acontecerá com o processo que se baseia nessa delação? Veja no próximo capítulo, este termina assim.

V de vingança 

Quem acompanha novelas pelos comerciais no intervalo dos jogos sabe que os "momentos decisivos" muitas vezes incluem brigas entre duas mulheres: uma que só fez malvadezas, que apanha; outra que sofreu durante toda a trama, que desabafa e bate com gosto. O pessoal adora deste tipo de final, poderíamos usá-lo aqui também. Só é preciso alterar a parte dos puxões de cabelo.


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