sábado, 15 de fevereiro de 2025

Cafezinho

Final de uma reunião em 2005, mandam trazer mais um cafezinho e o pessoal passa a falar em tom zombeteiro do bebum que derreteu nas pesquisas e deve ser chutado na eleição do próximo ano. Eu olho pra senhora que serve o café e seu rosto fechado está dizendo algo como: "o Lule é nosso, vocês vão ver só uma coisa na hora H".

Na mesma época, a moça da cafeteria que eu frequentava me diz, meio constrangida, que vai votar na besta apesar do Mensalão porque é pobre e a vida do pobre melhorou em seu governo. Levo a conversa um pouco mais adiante e descubro que ela ganhava mais na época do FHC, mas ela retruca que sente que está melhor agora. 

Não deu outra. Na última hora ele vestiu a fantasia do homem do povo que as elites não querem que chegue lá, trocou o isolamento em que estava pelos grotões que o acolheram com entusiasmo (principalmente no Nordeste), inventou um programa fajuto de recuperação de rodovias, e venceu a eleição. Contra o Alckmin, mas venceu.

Como o Alckmin, o país mudou nesses 20 anos. O Molusco ainda tenta se mostrar como campeão dos pobres, mas os botões ficam estourando porque a roupa já não lhe serve. Ele não é mais "um de nós" e não é mais "nós contra eles", inclusive porque existe a questão dos valores e nem tudo se reduz ao aspecto econômico.

Mesmo em termos de economia, as pessoas ainda podem dizer que estão pobres, mas dificilmente dirão que são pobres, não se consideram mais presas à casta inferior em que nasceram. E mesmo que passem a ganhar um pouco mais, elas podem sentir que as coisas pioraram.

Em suma, muita coisa se inverteu. Pessoalmente, eu não sinto agora o receio que se revelou fundamentado em 2005; creio que desta vez o pilantra não se recupera. Outra mudança é que eu diminuí bastante o cafezinho. Com o preço que está o café, quem aguenta tomar muitos por dia?  

100%?

"Se eu estiver com 100% de saúde, posso ser candidato", disse ontem o Molusco de acordo com manchete do Esgotão. É evidente que não se pode tomar essa declaração ao pé da letra, mas se as palavras indicam algo a pergunta óbvia é: quem está com 100% de saúde aos 80 anos?

Datafolha, variação de dezembro para fevereiro

Ruim/péssimo - de 34% para 41%

Regular - de 29% para 32%

Ótimo/bom - de 35% para 24%

Sei que você já viu esse números por aí, mas é uma delícia repeti-los.


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