segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Alvo de baixo custo

Se o cara foi entrevistado pelo UOL, com certeza joga pela esquerda. Mas por isso mesmo é interessante destacar algumas falas do brasilianista Brian Winter, editor-chefe da Americas Quarterly, revista que tem em seu conselho editorial brasileiros como Ilona Szabó e FHC. Seguem os trechos condensados e curtos comentários:

Acho que este será o presidente dos EUA mais focado na América Latina nos últimos 30 anos. É uma boa notícia para governos que Trump considera ideologicamente alinhados, mas para os outros é diferente.

Vivemos em um mundo onde curtidas e seguidores se traduzem em poder real. Vimos isso com Bolsonaro no Brasil. Ainda acredito que, se Hillary tivesse vencido em 2016, Jair Bolsonaro nunca teria vencido em 2018. Eu normalmente não adoto uma visão tão centrada nos EUA do mundo, mas acho que este é um caso em que isso foi verdade. 

É outro modo de dizer que Bozo só perdeu em 2022 por causa de Biden.

Muitos líderes buscam ganhar atenção de Trump porque isso os ajuda a ganhar votos e influência em casa. Há uma teoria popular de que é apenas um pequeno grupo, como Orbán, Netanyahu ou os Bolsonaros. Talvez isso fosse verdade no passado, mas não é mais. Vimos uma longa fila de líderes se alinhando para se encontrar com Trump, incluindo Meloni. 

Detalhe: todos estão no singular, exceto "os Bolsonaros".

Mas haverá benefícios concretos? Vamos pegar o caso brasileiro. Penso que nos próximos meses Trump vai apontar seu canhão retórico contra Lula. Creio que há uma contagem regressiva para o primeiro tweet de Trump criticando Lula e ameaçando sanções ou tarifas, a menos que Jair Bolsonaro seja autorizado a ser candidato em 2026. Porque isso faz parte do acordo: quando você apoia Trump, como os Bolsonaros fizeram, você recebe esse tipo de apoio de volta.

Houve um momento em que Bolsonaro foi o único líder democrático a não reconhecer a vitória de Biden. Só o fez quando ele foi ratificado pelo Colégio Eleitoral, 38 dias depois. Acho que isso conta. 

Vou e volto entre pensar que Trump não terá muito tempo para o Brasil ou pensar que o Brasil é o alvo perfeito de baixo custo para Trump. Isso porque Trump se vê como um guerreiro liderando uma luta global contra a esquerda. Ele pode decidir que Lula é um oponente atraente, não apenas retoricamente, mas também para punições concretas.

Se os EUA impuserem tarifas ao México, isso prejudica a economia dos EUA. Se impuserem tarifas ao Brasil, o efeito é quase nulo, porque não há tanto comércio assim em termos relativos. Então, se Trump quiser briga, Lula pode ser a contraparte perfeita.

"Oponente atraente", hehe. Porrada nele, Trump, nós seguramos.

Além disso, várias pessoas próximas a Trump espalham uma visão negativa em relação ao Brasil, incluindo Elon Musk e Jason Miller, que foi detido no Brasil em 2021 e certamente não se esqueceu disso.

No mundo político do sul da Flórida, alguns brasileiros são influentes no círculo de Trump e estão vendendo a ideia de que o Brasil está reprimindo a liberdade de expressão política, como a Venezuela. Essa ideia é falsa, mas ressoa entre os republicanos que não distinguem entre a esquerda democrática e a autoritária na América Latina. O clima em torno do Brasil nesse mundo é profundamente negativo e o entendimento dos EUA sobre o Brasil é limitado.

Falsa o cacete, Brian, eles já estão até dizendo que criticar o desgoverno é crime. Mas o que interessa é que as pessoas próximas a Trump estão transmitindo a ideia correta.


Nenhum comentário:

Postar um comentário