quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Ressentidos e vaidosos

Paul Krugman está se aposentando "do New York Times, não da vida" e decidiu nos brindar com uma crônica de despedida em que analisa rapidamente o que aconteceu nos 25 anos em que passamos de uma sociedade legal e esperançosa para uma dominada pelo "ressentimento".

Ressentimento, você já sabe, é a palavra que a esquerda utiliza para explicar por que as pessoas não votam nos seus candidatos e não aceitam seus valores. Na origem, o conceito é simples: os mais pobres, caipiras e pouco educados que votam em Trump, estão ressentidos com a elite que não lhes dá importância.  

O problema surge quando você precisa explicar o que acontece na realidade. Aqui no Brasil, por exemplo, a elite financeira e seus sabujos na academia e no jornalismo são de esquerda e formam a elite de pessoas bacanas e não ressentidas. Mas quem sustenta a esquerda eleitoralmente são os analfabetos (ou quase) da base da pirâmide.

Para resolver a questão, o intelequitoal C. Lynch criou a teoria segundo a qual o pobre é originalmente feliz, tornando-se ressentido apenas quando começa a ganhar um pouco mais e decide olhar para cima ao invés de para os lados, passando então a invejar quem está em uma situação que ele provavelmente nunca atingirá.

A dificuldade de Krugman era invertida e consistia em justificar o trumpismo dos bilionários da alta tecnologia. Mas não pense que ele se apertou. Segundo sua teoria, esses caras se tornaram ressentidos porque sentiram que "as pessoas" não os admiram como eles gostariam. São uns mimados, uns vaidosos.

Divertidas contradições

Salta aos olhos o primarismo e as contradições dessas classificações. Quantos reais a mais o sujeito precisa para deixar de se sentir um pobre feliz que ganha bem (como pobre) e passar a se ressentir com quem está financeiramente acima dele? É uma pena que não tenhamos mais o adepto do Lynch para tentar defender a teoria do mestre.

E quanto ao Krugman? Será que não lhe passa pela cabeça que seria possível inverter o raciocínio e dizer que os ressentidos são aqueles que, passando pela vida sem criar nada de excepcional, se recusam a reconhecer o talento dos que modificaram tecnologicamente o mundo e ainda ficaram bilionários no processo?

Isso para não falar da associação entre esquerda e elite. Essa até está correta, mas o manual não dizia que esquerda é a força popular que está ao lado dos deserdados? O mais divertido dessa história do "ressentimento" é que os esquerdistas se assumem implicitamente como parte da elite. E em termos de dinheiro, não de "elite intelectual".    

Faltou uma diferença

Ao citar o que mudou nos últimos 25 anos, Krugman também esqueceu de se incluir no processo. Na virada do século, mesmo tratando de algo externo à sua especialidade, o artigo do "Prêmio Nobel de Economia" (como ele ainda se apresenta) seria lido e comentado. Hoje serve para ocupar espaço vazio na Folha e no Estadão, ninguém liga.

Podemos ainda pegar o exemplo de Tia Lúcia, que certamente concorda com Krugman. Como era diferente o status da jornalista "que vive em Nova York desde 1537" e escreve nos grandes jornais. Hoje ela se dedica a destilar seu rancor irracional por Elon Musk... no X que pertence a Elon Musk. Quem é mesmo ressentido?  


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