Cem anos atrás, a Suprema Corte da Baviera discutiu o caso de um senhor condenado a cinco anos por tentativa de golpe e decidiu perdoá-lo, libertando-o em 20 de dezembro de 1924. No total, ele passou pouco mais de um ano numa cela ao estilo corrupto preso em Curitiba, um apartamento onde lia, escrevia e recebia amigos.
Comparando com o que acontece hoje em dia no Brasil, você pode achar que pegaram muito leve com ele, mas é necessário ver as diferenças entre o seu caso e o dos condenados pela tentativa de golpe de 8 de janeiro.
Lá foi tudo às claras. O rapaz de quem falamos assumiu ser o líder dos golpistas e estes, que estavam organizados num partido que tinha alas armadas e acostumadas a atos violentos, saíram às ruas com a declarada intenção de derrubar o governo, enfrentando as forças de segurança que só os detiveram ao atirar para matar.
Aqui foi tudo escamoteado. Os golpistas nunca se assumiram como tal e apresentaram álibis cuidadosamente construídos. Por mais que os investigadores tenham se esforçado, todos tinham um histórico de pais, mães e avós inofensivos. É coisa de dar inveja a espião russo vivendo como americano no tempo da Guerra Fria.
Suas armas foram ocultadas com a mesma eficiência. Até hoje não se sabe se eles as receberiam de colegas que chegariam de táxi ou se os que as portavam estavam esperando um sinal da vanguarda disfarçada de tias e tios barrigudos. Tudo que as forças de segurança puderam encontrar foram Bíblias e batons.
Em outro discurso bem combinado, os golpistas daqui alegam que se reuniram pela internet para protestar contra uma fraude eleitoral. Isso é obviamente falso porque nós temos um sistema eleitoral perfeito, invejado pelo resto do mundo. Mas o fato é que nenhum deles se assumiu como líder ou entregou quem os liderava. Tão bem a esconderam que ainda não se descobriu como sua cadeia de comando funcionava.
Essas diferenças mostram que, ao invés dos meninos alemães que talvez tenham exagerado na cerveja e resolvido dar um golpe no entusiasmo do momento, os "tiozinhos" brasileiros foram muito bem treinados e seguiram um plano que se estendeu por vários anos, meticulosamente elaborado por alguma mente diabólica.
Os que promoveram o que a sábia Rosa Weber chamou de "o nosso Pearl Harbor" são mais perigosos. Justifica-se, portanto, condená-los a penas três vezes maiores e não aceitar nenhum tipo de anistia em seu caso. Aliás, é provável que os querem anistiá-los sejam também membros da organização golpista secreta.
Quanto às condições carcerárias, a questão é outra. Prisões que mais parecem confortáveis hotéis devem ser reservadas para os que fundam partidos que se digam "dos trabalhadores" e defendam algum tipo de socialismo, abnegados que só querem o bem do povo pobre e da humanidade em geral.
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