sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Branco e misturado

Amostragens significativas do DNA da população brasileira mostraram que 75% de nossa herança genética masculina tem origem europeia. Mas nosso DNA mitocondrial, que se transmite de mãe para filha, se divide em parcelas praticamente idênticas entre ancestrais europeias, indígenas e africanas.

Não há nenhuma novidade nisso. Logo após a Descoberta poucas mulheres vinham da Europa para cá e os colonizadores/imigrantes brancos acabavam se relacionando e se casando com as indígenas, que muitas vezes eram capturadas na infância e educadas para se tornarem futuras esposas em "viveiros de noivas". 

Ruim para os índios jovens da época. Bom para a etnia como um todo, que hoje sobrevive em 70 milhões ou mais de brasileiros, nos nomes dados às localidades quando se falava mais tupi que português e em costumes impostos pelas donas da casa, de tomar banho todos os dias à facilidade para tratar o estrangeiro que chega como alguém da tribo.

Com a chegada dos africanos escravizados, muitos brancos (inclusive aqueles com ancestrais indígenas) acabaram tendo filhos com suas escravas. E esses mulatos tanto podiam se casar com negros como com brancos, num processo que se acentuou conforme a escravidão foi sendo abandonada.

Além disso, negros e negras se casaram aqui desde o início, inclusive quando pertencentes a grupos que não se misturavam na África. Eu não consegui saber como se divide o 25% restante de herança masculina, mas a lógica indica que ela deve ser muito mais africana do que indígena.

DNA do Brasil

Os números mencionados no primeiro parágrafo fazem parte de um trabalho chamado DNA do Brasil, que foi criado pelo Ministério da Saúde no primeiro ano do governo Bolsonaro, mas precisou ser deixado em segundo plano com o advento da pandemia e agora avança como possível. 

O objetivo declarado do programa é adaptar tratamentos médicos a doenças que dependem da composição genética da população. Mas ele também acaba por confirmar que nós quase certamente somos o país mais miscigenado do mundo, as considerações acima são apenas a base de misturas mais complexas.

Isso é algo de que costumávamos nos orgulhar, mas militantes racistas tentam atualmente negar para obter quotas e ganhos políticos. E o modo de combater esses imbecis com as armas deles é retirar a questão do âmbito dos absurdos tribunais raciais e trazê-la para o campo científico do DNA. 

Com a carga genética não há como discutir. Ela mostra que nós somos um caldeirão de etnias. E se você quiser por algum motivo identificar a origem dos ingredientes dessa mistura, basta fazer a conta: somos também majoritariamente brancos.


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