Não satisfeitos com sua desmoralização entre os eleitores brasileiros, nossos jornalões tentam agora alertar o eleitor americano sobre os perigos do fascismo de Donald Trump. É assim que o Ex-tadão de hoje dá mais destaque a um artigo copiado do NYT que ao seu editorial contra os golpistas que atacaram nossa impoluta democracia.
Longo, o artigo se baseia na opinião do veterano (92 anos) historiador Robert Paxton e gasta um bom espaço para explicar como sua importante obra ensinou os franceses a entender o que aconteceu na França e toda aquela conversa que se usa quando a mensagem é fraca e só resta apelar para a credibilidade do emissor.
Em linha com o ainda mais veterano Noam Chomsky (para quem Bolsonaro e Trump são piores que Hitler porque querem destruir o mundo ao invés de apenas matar judeus) Paxton pensava que esse negócio de chamar todo mundo de fascista tinha se esgotado, mas viu que estava errado e Trump era mesmo fascistão.
O curioso é que, com toda sua expertise, ele não tinha percebido essa tendência durante os quatro anos em que o Laranjão foi presidente. Foi notar justamente quando ele saiu do poder e alguns de seus correligionários invadiram o Capitólio, algo que não o fez apenas lembrar da marcha dos mussolinistas sobre Roma. Diz Paxton:
A guinada para a violência foi tão explícita, tão óbvia, tão intencional que nós tivemos que mudar o que já havíamos dito sobre o assunto (...) uma nova terminologia era necessária porque algo novo estava ocorrendo (... o que) remove minha objeção ao rótulo de fascismo, que agora não parece apenas aceitável, mas necessário.
Até então Paxton só tinha achado aquela mania de Trump empurrar o queixo para a frente meio parecida com a pose típica do Mussolini, mas, para alegria dos acadêmicos que tinham outra opinião sobre este candente tema, o protesto de trumpistas contra a fraude eleitoral o convenceu de que havia mais semelhanças entre os dois monstros.
O que ele continua a não concordar é em chamar Trump de fascista. Não que o malandro não o seja, mas é que o termo está desgastado e "produz mais calor do que luz", tornando-se contraproducente. Aliás, essa é outra polêmica que divide os intelectuais progressistas norte-americanos.
De nossa parte, só achamos estranho que esse pessoal seja tão atento a esses aspectos cosméticos e nunca dê importância aos mais substanciais. Que decisão fascista Trump (ou Bolsonaro, para agradar o Chomsky) tomou em seu governo? Ele tentou prender alguém por opinião política? Tentou censurar as pessoas?
Será que não passa pela cabeça de estudiosos tão dedicados a possibilidade do fascismo ter passado por uma metamorfose similar à da Máfia, que em certo sentido está até pior do que antes, mas hoje é conduzida por empresários bem vestidos e donos de títulos acadêmicos, bisnetos dos criminosos espalhafatosos do passado.
Nesse caso, o fascismo estaria nos que tentam impor seu autoritarismo aos poucos, censurando e criminalizando opiniões etc. E as grosseiras erupções populares em sentido contrário seriam as reações mais espontâneas de quem não é profissional do assunto, mas percebe o laço se apertando em seu pescoço.
O artigo não cogita nada assim. Mas lá no finzinho ele conta que Paxton observa, talvez meio surpreso, que Trump foi eleito pelo povo enquanto seus "antecessores" foram nomeados em manobras de gabinete, pelo rei e por Hindenburg. Como diz o historiador:
O fenômeno Trump parece ter uma base social muito mais sólida, que nem Hitler nem Mussolini poderiam ter tido.
Ao que Chomsky responderia: "Não falei que ele era pior?"
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