Até o norte da África, continente que todas as previsões dizem que seguirá em direção contrária nas próximas décadas, já é afetado pelo fenômeno. As taxas de natalidade caem bruscamente em todo o mundo, em muitos países abaixo da média de 2,1 filhos por mulher, necessária para manter o total de habitantes.
Os islâmicos acabarão dominando a Europa (e o mundo) porque suas mulheres têm mais filhos? Em termos relativos pode ser, mas mesmo entre eles as taxas estão caindo. E não só no norte da África.
Pegue o exemplo do Irã, cuja média era de 7 filhos por mulher nos anos 60, caiu para 6,4 nos 70 e voltou a subir para 6,6 logo após a revolução liderada por Khomeini. É fato que os próprios aiatolás incentivaram o controle da natalidade por algum tempo, mas hoje eles defendem o contrário e a taxa não passa de 1,8 filhos por iraniana.
O mesmo acontece na China, que não consegue reverter a mentalidade introduzida com a política do filho único. E acontece até com a islâmica que vive na Europa e compara sua vida com a vizinha de origem ocidental. Criar filhos tem custo e dá trabalho, quando se começa a pensar muito no assunto - o que qualquer política de natalidade obriga a fazer, diga-se de passagem - a tendência é evitá-los.
A primeira onda dessa maré consistiu em limitar o número de filhos. Nossos avós tinham muitos irmãos, nosso pais podiam ter poucos ou muitos, nós temos poucos. E pelo que se vê por aí, nossos filhos deverão ter ainda menos.
Minha mãe tem três filhos e seis netos. Como a neta mais moça já terminou a faculdade, deveria ter alguns bisnetos. Não tem nenhum, mesmo com dois netos casados e um terceiro quase. Os netos nem falam no assunto. Comentei isso com um amigo mais velho, que tem dois filhos chegando aos 40 e noras um pouco mais jovens. A mesma coisa, acho que a tendência é majoritária.
Isso está em linha com a segunda onda do assunto, que consiste em adiar a chegada dos filhos até que a situação melhore. Ligo a TV e o comercial do empreendimento imobiliário ideal para as crianças terem contato com a natureza mostra um pai acompanhando o filhinho que corre pelo gramado. A grama é verde, os cabelos do pai são brancos. Se a propaganda usa essa imagem, não é preciso dizer mais nada.
É óbvio que o sujeito de cabelos brancos pode ter uma esposa muito mais nova, mas no geral as diferenças de idade entre cônjuges continuam pequenas e as mulheres também querem ter carreiras e se estabilizar antes de ter filhos, o que por si só as leva ao limite determinado pela natureza e não lhes permite gerar mais que um ou dois.
Outra decorrência desse posicionamento feminino é abordado por um recente artigo da BBC europeia. Os homens sem título universitário (e que não jogam na Premier League, podemos supor) têm crescente dificuldade para casar e/ou ter filhos, pois as moças se educam e continuam a exigir parceiros que estejam em nível igual ou superior ao seu.
Para não dizer que tudo empurra na mesma direção, podemos lembrar da favelada que aos 20 anos tem quatro filhos de pais diferentes. Onde há muita pobreza e poucas aspirações (o que também é o caso da África subsaariana) ainda impera a baderna, mas a tendência é o padrão das classes mais altas se espalhar pirâmide abaixo e a nível mundial, creio que nem a população da África crescerá como hoje se prevê.
Um decréscimo constante da população deveria ser comemorado pelos que receiam que a humanidade acabe com os recursos do planeta, mas os catastrofistas já imaginam problemas que vão da queda da atividade econômica à eliminação deliberada de idosos para não ter que sustentá-los.
Tudo bobagem, provavelmente, pois nós já tivemos grandes decréscimos de população no passado e sempre demos um jeito. Pode ser que as pessoas precisem trabalhar mais tempo, mas as tarefas mais leves podem ser reservadas aos mais velhos e a tecnologia pode transformar tudo o que conhecemos em pouco tempo.
Na realidade, supondo que depois de algum tempo a natalidade se estabilize em torno de uma taxa mundial de algo como 1,5 filhos por mulher, deve ser bem interessante viver num mundo em que a população vai diminuindo e casas são abandonadas enquanto as matas crescem e os rios se enchem de peixes.
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