Seria Trump um fascista? E Bolsonaro? Essas perguntas têm sido feitas com grande frequência pela mídia ocidental nos últimos tempos, quase sempre em artigos em que um "respeitado historiador" ou coisa semelhante é chamado a discorrer sobre o tema e oferecer sua conclusão.
"É, sem dúvida"; "não é"; "não é, mas aspira a ser"... as citações literais mostram que as opiniões dos estudiosos variam, mas o ponto comum a todos eles é a absoluta obediência ao universo pressuposto na pergunta, que os limita a discorrer sobre as tendências psicológicas de um indivíduo.
O primeiro problema disso é que nunca se sabe bem o que outros pensam. O segundo é que, mesmo que a sua opinião sobre as motivações de alguém esteja correta, nem toda a propensão se transforma em ato. O terceiro é tratar o fascismo como uma espécie de MEI, uma empresa que tem um dono e pode eventualmente crescer.
Está certo que foi assim que nós o conhecemos, Hitler levou seu pequeno partido ao poder, por exemplo. Mas o nazismo não seria menos terrível caso fosse uma SA dirigida por sócios anônimos. E nada impede que um Estado se torne fascista sem que seus dirigentes apresentem o perfil geralmente associado a um líder fascista.
O ruim do fascismo não é a existência do grande líder, o apelo ao nacionalismo ou alguma bobagem de ordem cênica. É o autoritarismo, a ditadura, a censura, as perseguições, prisões e assassinatos de inimigos do regime. Sem esses males, os fascismos de almanaque seriam movimentos folclóricos inofensivos.
Podemos, portanto, deixar os detalhes bobos de lado e equiparar fascismo e autoritarismo. O que é interessante porque nos permite comparar os governos de Trump e Bolsonaro aos dos adversários que os sucederam e os acusam de fascistas.
Algum dos dois acusados perseguiu ou prendeu alguém por motivos políticos? Algum tentou censurar quem quer que fosse? Muito pelo contrário, ambos deixaram seus adversários à vontade e, apesar de frequentemente ofendidos com mentiras raivosas, sempre defenderam a mais ampla liberdade de expressão.
Vamos para seus acusadores. Devido à forte tradição libertária americana os democratas precisam se conter, mas a censura, a base sobre a qual se ergue o monstro, é abertamente defendida pela candidata Kamala. E do Brasil do regime PT-STF nem é preciso falar, há censura, prisões arbitrárias, exilados e tudo o mais.
Claro que há graduações nessa matéria, mas quem já se mostrou mais próximo de produzir um Estado autoritário não foram Trump e Bolsonaro, foram os que os acusam de querer fazê-lo. Isso é indiscutível no mundo dos fatos, o resto é especulação.
Que os verdadeiros autoritários não sejam líderes carismáticos, mas pareçam instrumentos insossos que podem ser substituídos a qualquer tempo (como Biden) ou escondidos e reapresentados repentinamente em nova roupagem (como Kamala), só nos lembra que não sabemos ao certo quem controla a SA para a qual trabalham.
É nesse contexto que se insere a questão inicial. Como os argutos historiadores podem se limitar ao cenário proposto pelos repórteres e deixar boa parte dos fatos recentes de lado para criar futuros distópicos a partir de análises simplórias de motivações? Será que encheram o saco da profissão e querem entrar no ramo da ficção? Ou eles não podem mencioná-la porque de algum modo também trabalham para a SA?
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