Alguém pode estar certo e errado ao mesmo tempo? Esse é o caso de Vera Iaconelli, "doutora em psicologia pela USP", que pergunta, na Folha de hoje, por que a galinha vota em raposa, mulheres votam em agressores (de outras mulheres, suponho) e contribuintes entregam seus impostos a corruptos.
Se esses são seus exemplos de raposa, Vera é uma galinha meio burrinha. Quanto às mulheres, o Dr. Freud Marçal já explicou que as inteligentes não votam por "sororidade", mas por uma série de fatores. E a última pergunta ela devia fazer ao espelho, pois optou pelo maior corrupto da história na última eleição presidencial.
Sem se preocupar com essas contradições, a doutora conclui sua introdução lembrando que esse gênero de pergunta é típico da psicanálise, disciplina que despontou justamente quando o Ocidente, que se arvorava como civilizado e humanista, viu suas fantasias racionais ruírem com a barbárie da Primeira Guerra Mundial. E aí sim, lamenta que o espaço do artigo é curto e nos dá uma pista para encontrar a resposta.
Resumindo seu ponto, o Dr. Freud original disse que o bebê se considera o centro do universo e isso permanece em nossa psique, levando-nos a apoiar megalomaníacos que nos servem de modelo na medida em que ocupam um trono que fazemos questão que exista porque no fundo gostaríamos que fosse nosso.
Uma observação geral é que de certa forma cada um é realmente o centro de seu mundo. Mas mesmo sem contestar o enunciado, a coisa começa a ficar estranha porque a maioria controla sua tendência infantil e a estudiosa do tema deveria controlar ainda mais, porém podemos apostar que ela faz parte da turma que defende a prisão de moças que escrevem em estátuas com batom e outros sadismos inconstitucionais.
Para piorar, dona Vera emenda que "os ideais igualitários, coletivistas, comunitários, ferem de morte nossas aspirações delirantes de reinarmos absolutos sobre os demais". O que tem sentido em termos do bebê mandão crescido, mas revela uma visão muito restrita do exemplo utilizado.
A questão é que somos mesmo cada qual um centro único cujos potenciais devemos (ou deveríamos) tentar desenvolver ao máximo. Os tais "ideais igualitários" são válidos enquanto respeitam essas individualidades, tornando-se contraproducentes quando passam, como é muito frequente nesses casos, a tratar as pessoas como gado.
Gado deve ser conduzido. E é justamente nesse ponto que surge muitos reizinhos que alegam defender nobres ideais para justificar seu autoritarismo. Eles abundam na política e no judiciário politizado, mas também são encontrados em outros espaços da sociedade, geralmente querendo "ensinar" aos demais que existem cinco sexos, alguém deve ser favorecido legalmente por sua cor ou asneira similar.
Diagnóstico do Dr. Emílio Freud
Como se pode notar desde o início, a paciente projeta suas falhas nos demais, critica quem elege corrupto e vota no mais ladrão etc. Sem força política para mandar no mundo como seu bebê interior adoraria, apoia as arbitrariedades dos que a têm e lança a conversinha mole dos "ideais coletivos" porque julga ser parte dos que devem defini-los. O caso é grave, praticamente perdido, não vislumbramos melhoras.
Taxação das grandes fortunas
De saída, a doutora ainda qualifica de ignorante e irracional a oposição à taxação de grandes fortunas. Aí talvez exista uma chance de cura, pois você pode mostrar que as fortunas fugiram dos países onde a medida foi adotada. E pode lembrar que isso é como tabela do IR, basta não corrigir alguns anos para a grande fortuna ser uma casa e dois carros. Com governos corruptos como os que ela gosta, não dá nem pra pensar.
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