É difícil deixar um vício, mas o primeiro passo é admitir o problema e se dispor a mudar. Essa é a importância do corajoso relato resumido abaixo, em que uma usuária confessa a sua dependência de uma das mais maiores drogas da atualidade: o celular carregado com redes sociais. Direto ao depoimento, vamos lá.
A gente vive criticando o uso de rede social pela geração Z e nos preocupando com as crianças. Mas como estamos usando as redes? Eu sou uma tragédia ambulante. Meu uso diário está na média das 7 horas, enquanto a média global fira em torno de 4h40 e a brasileira em 5h28. Só nas Filipinas a média é maior. E na minha casa.
Esses dias, gripada e de cama, meu tempo chegou a 12 horas, mais da metade delas no Instagram, meu principal problema, onde passo em média 2 horas e meia. E eu nem gosto do Instagram! Na verdade detesto, justamente porque sei dos seus efeitos nocivos para a saúde mental e do quanto ele é feito para que a gente se vicie.
Também não sou influenciadora e nem adolescente. Sou uma mulher de meia idade que vive falando sobre os efeitos nocivos das redes sociais. Só que isso não me impede de ser viciada e celular vicia como qualquer droga, ativando os mesmos circuitos cerebrais que drogas como o álcool e liberando dopamina, o neurotransmissor do prazer.
Mas este é um prazer idiota. Me sinto navegando no vazio, entorpecida e com uma ansiedade constante. E o que consumo é tão desimportante que nem lembro do que vi no dia seguinte. Ontem, por exemplo, fiquei acompanhando uma residente de medicina. Não sei por que o algoritmo me enviou esse conteúdo, mas funcionou. Passei horas vendo a menina correr por um hospital sem nada acontecer. Mas eu não conseguia sair.
Após admitir seu vício, a usuária comenta suas tentativas de abandoná-lo. No começo pareceu funcionar, ela se obrigou a largar o aparelho por longos períodos para pedalar e nadar no lago. No entanto, bastou o tempo esfriar e surgirem "problemas familiares" para que caísse novamente na droga hipnotizante.
Atualmente ela monitora o tempo que passa nas redes através de aplicativos específicos e tenta seguir os conselhos de psiquiatras para criar metas como só acessar o celular em certos horários. Ela está lutando. E termina reconhecendo novamente seu problema, mas alertando que todos somos afetados em algum grau por ele:
O MEC prepara um projeto que deve proibir os celulares em todas as escolas do Brasil. Essa é uma excelente notícia. Mas eu, que trabalho em casa, preciso urgentemente que o uso do celular seja proibido no meu prédio. Somos viciados porque esses aparelhos e as redes sociais são moldadas cuidadosamente para isso. E porque, de alguma maneira, temos algum prazer mórbido em navegar pelos mares do vazio.
"O iPhone é uma ferramenta de distração incrível, ele nos impede de estar com nós mesmos e, nesse sentido, é mesmo problemático: é muito tentador não pensar", disse o filósofo Alais de Botton. E não há como discordar dele. É quase impossível vencer a tentação de não pensar. Mas prometo, envergonhada, tentar melhorar.
Só podemos acrescentar que estender essa vontade de pensar para a política lhe ajudaria a ver quem é verdadeiramente extremista e perigoso. Mas admiramos seu esforço e fazemos votos que você consiga vencer o mal que já reconhece existir. Estamos com você, Nina Lemos!
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