sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Fácil demais

Entre condenados e acusados, os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro que fugiram para o exterior já são calculados em cerca de 200. A maioria se refugiou na Argentina e solicitou "asilo político" ao governo de Javier Milei, aliado de Jair Bolsonaro que protela a solução do problema.

Alguns podem ter dinheiro sobrando ou arrumado trabalhos informais, mas com situação legal indefinida, como comprovamos recentemente em Buenos Aires, grande parte desses antigos assalariados ou microempresários não conseguiram se inserir na economia do país vizinho. Como eles vivem, quem os sustenta?

Uma resposta pode ter sido dada por Felícia (nome fictício para sua proteção), jovem economista de uma consultoria que recebeu uma leva de novos clientes brasileiros nos últimos tempos, algo que inicialmente lhe pareceu natural porque coincidiu com a abertura de uma pequena representação comercial em São Paulo.

No entanto, o que parecia ser fruto de uma estratégia bem sucedida de marketing ganhou outra dimensão quando ela descobriu que seus patrões estavam usando o nome de familiares para financiar grupos dedicados a apoiar o que chamam de "fugitivos da ditadura esquerdista brasileira".

Conversando com colegas mais antigos, Felícia comprovou suas suspeitas de que isso não é uma simples coincidência, mas uma terceirização de doações que dificilmente pode ser provada, pois o valor envolvido é adicionado ao de um serviço de consultoria que é realmente executado e não pode ser tabelado.

"É fácil enganar as pessoas desse modo", disse um desses funcionários ao acrescentar que a empresa em que eles trabalham é apenas parte de um esquema que se utiliza de outras consultorias e escritórios de advocacia para movimentar um total de pelo menos R$ 500 mil mensais em doações terceirizadas.

De volta ao Brasil, levamos essas informações a nossos contatos no Ministério Público e na Polícia Federal. Oficialmente ninguém comenta nada, mas, em off, muitos confirmaram ter conhecimento dos fatos que qualificam como graves e lamentam não poder resolver de imediato.

"Seria muito importante identificar os doadores de agora porque eles devem ser os mesmos que financiaram e organizaram a tentativa de golpe do 8 de janeiro. Mas para isso precisaríamos contar com a colaboração das autoridades argentinas e não temos nenhuma esperança de obtê-la enquanto a ultradireita estiver no poder", disse-nos um dos delegados que investiga esse caso desde o início.

Infelizmente ele está certo, esse acinte a nossas leis tem tudo para ficar impune por muito tempo, talvez para sempre. O que ressalta a força dos adversários da democracia e reitera o quanto devemos ficar atentos para protegê-la. Muitos se sacrificaram para recuperá-la no passado, não podemos perdê-la novamente.

Como você já deve ter percebido, é tudo fake. É que eu lembrei daquele conselho para se colocar no lugar do outro e resolvi pensar como seria se eu fosse um desses colunistas da nossa imprensa. Cara, é muito bom! Você só tem que criar um enredo bobo com meio pé na realidade, recheá-lo com fontes fictícias e esperar o PIX cair. Um modo simples e divertido de ganhar dinheiro.

Claro que, entrando na pele deles, me vieram aquelas ideias de estar enganando o leitor e coisa e tal. Mas basta imaginar que você trabalha com literatura, algo superior ao jornalismo. Você tem que se ver como um artista, um Orson Welles narrando uma Guerra dos Mundos cabocla. Se alguém acredita mesmo, problema dele, isso só mostra que você é bom e seu personagem tinha razão ao dizer que é fácil enganar as pessoas.

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