quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Entrevista com o neto do vampiro

Lembra quando nós dizíamos, meio brincando, que chegaria o tempo em que não se perceberia maiores diferenças entre a chamada grande imprensa e os "blogs sujos" do PT? O tempo chegou e hoje estamos até acostumados com isso, mas ainda há casos em que o "jornalismo profissional" consegue nos surpreender.

Um destes envolve a entrevista que o atual prefeito Ricardo Nunes deu ao canal do jornalista e exilado político Paulo Figueiredo. Esse é o fato, mas nas versões da imprensa que vimos por aí a entrevista foi dada ao "neto do ditador" ou ao "neto do general da ditadura", nem o nome do colega os "profissionais" se dignaram a destacar.

Que diferença faz isso, objetivamente falando? Nenhuma, o posicionamento político não se transmite por DNA e, mesmo que o fosse, a comparação favoreceria os Figueiredo. O João Baptista encerrou voluntariamente uma ditadura e o Paulo teve que fugir da defendida pelos que recordam seu parentesco.

Começando assim, dá para imaginar o que veio depois. Num dos casos que acompanhamos, ao dizer que Nunes criticou a prisão de Filipe Martins como absurda, o jornalista anônimo que escreveu um longo artigo em O Globo teve a coragem de "explicar" ao seu leitor:

Filipe Martins é ex-assessor especial para assuntos internacionais de Bolsonaro, ele foi preso em 8 de fevereiro deste ano, quando a Polícia Federal deflagrou uma operação sobre investidas golpistas, e teve a prisão revogada por Moraes em agosto.

Só faltou dizer o principal. Filipe, que não era investigado ou acusado oficialmente de nada, foi preso porque teria viajado aos EUA, algo que nunca foi crime e nem mesmo aconteceu, pois ficou provado que ele não havia viajado. O rapaz passou meio ano na cadeia por simples capricho do juiz-ditador.

A entrevista também foi analisada por Tia Reinalda. Chegando à parte em que Nunes lembrou que as pessoas envolvidas no 8 de janeiro receberam penas altíssimas enquanto Boulos invadiu e depredou ministérios em 2015 sem passar um dia na cadeia, Titia indignou-se e escreveu em sua coluna do UOL:

A ocupação do MTST foi um erro, mas a comparação é estúpida. O "depredou tudo" é nada menos que uma mentira. E, ainda que assim tivesse sido, há uma diferença evidente entre depredação do patrimônio e tentativa de golpe de Estado.

Claro que há uma oceânica distância entre uma coisa e outra. Justamente por isso é uma canalhice tratar a depredação do dia 8 como golpe de Estado. E Boulos pode não ter depredado "tudo", mas seu exército de profissionais da baderna depredou muito mais do que as velhinhas, merecendo, portanto, uma pena maior que a destas.

Titia até tem razão quando diz que Nunes exagerou na "conversão ao bolsonarismo" demonstrada na entrevista. Do voto impresso à obrigatoriedade de vacinas experimentais, ele mudou onde havia diferenças e tentou se posicionar à direita para recuperar votos que estaria perdendo para Pablo Marçal.

Mas é isso que realmente irrita os "jornalistas profissionais", não o entrevistador ou seu avô. Baseados em suas falsas pesquisas, eles haviam decretado que o apoio de Lule era positivo e o de Bolsonaro negativo em São Paulo. Mas agora veem o ungido do expre patinar e dois candidatos disputarem o padrinho que diziam não importar.

Pela enésima vez pensaram ter cravado a estaca no coração do vampiro e a malvada verdade os desmentiu. Nenhuma novidade, no filme que inspirou o título o jornalista profissional também acaba mal.

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