Se sem prova não há crime, basta eliminar as provas para evitar o crime. Esse é o raciocínio do Barroso, que, como vimos ontem, culpou a existência do voto impresso pela confusão da Venezuela, país em que os fiscais dos partidos podem comparar o resultado das "atas" (boletins de urna) com os votos dados a cada candidato.
Isso é feito na hora, na própria seção eleitoral. Limitando a conferência aos cargos majoritários, calcule quanto tempo levaria num país como o Brasil, em que as seções têm uma média de quase 300 e um máximo de 500 eleitores. Seriam minutos que garantiriam a lisura da contagem.
O processo poderia ser filmado com celular e postado na internet, ainda que de maneira informal. Nos poucos casos em que não fosse possível contar os votos, valeria o resultado eletrônico que temos hoje. Com isso teríamos certeza de que os boletins de urna são válidos e ninguém poderia fraudar a eleição.
Será? Na Venezuela, os juízes eleitorais que trabalhavam para um candidato o declararam vencedor, mas sumiram com as atas que deveriam comprovar seus números. Por aqui, onde um dos juízes confessou que foram eles que derrotaram um candidato, os boletins de urna estão disponíveis a todos.
Creio que ninguém os somou, mas não duvido que essa soma bateria com o resultado eletrônico. No entanto, o que aconteceria se numa próxima eleição os números diferissem em, digamos, menos de meio por cento? Se os juízes-que-derrotam-candidatos declarassem um resultado e quem somou os boletins achasse outro?
Nossos juízes-deuses admitiriam candidamente ter fornecido um resultado errado? Ou acusariam quem somou na mão de ter usado números falsos, alterado boletins com inteligência artificial e divulgado desinformação antidemocrática de um modo que reitera a urgência da regulação das redes sociais?
Os companheiros da grande imprensa, aqueles ingênuos que acabam de descobrir que o descondenado é unha e carne com o Maduro e este é um ditador, ficariam de qual lado? Se não fosse direto para a cadeia, a quem o sujeito que somou os boletins poderia recorrer para mostrar que estava certo?
Muito provavelmente a ninguém, a versão oficial se imporia e quem insistisse na outra seria acusado de propagar fake news. Com uma diferença pequena, bastaria os somadores oficiais declararem que ela era pequena para o outro lado e o baile seguiria como se nada tivesse acontecido.
Na última eleição nada disso foi necessário por aqui porque a diferença foi a favor do candidato defendido pelos juízes. Se houve fraude foi na programação de algumas urnas, mas isso só poderia ser comprovado se tivéssemos voto impresso. Como não temos, resta-nos a paz barrosiana: sem prova, sem crime.
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