Foi uma das primeiras tentativas, todas a nível municipal, de acabar com as sacolinhas plásticas para salvar o planeta. Na época, conversando com um dos líderes do movimento, dono de uma pequena rede de supermercados, deu para perceber sua preocupação com o verde.
Verde se virasse dólar, mas podia ser mesmo em reais. Todo o entusiasmo do cara era com o valor que seria economizado com o fim das sacolinhas grátis. Mas embora essa fosse uma dimensão óbvia da questão, a imprensa e os políticos (de todos os partidos) nunca a mencionaram.
A lei foi aprovada e os clientes passaram a trazer sacolas reaproveitáveis de casa ou comprá-las nas lojas. Tudo sob o aplauso do noticiário, que só mostrava pessoas orgulhosas de estarem fazendo a sua parte na grande obra salvacionista.
Parecia uma hipnose coletiva, todos aceitando que jogassem o trabalho e o custo para o consumidor. O pessoal nem mesmo lembrava que oferecer a embalagem sempre foi responsabilidade do comerciante, que antes embrulhava a compra com papel e a amarrava com aquele barbante branco do rolo sobre o balcão.
Com o tempo os clientes ficaram de sacola cheia e a coisa voltou ao normal, mas esse não foi o único esquema do gênero. Num exemplo que recordávamos esses dias, fizeram todo mundo trocar de geladeira e o buraco da camada de ozônio só deixou as manchetes porque ficou chato dizer que ele continua aumentando.
E já tem mais uma se desenhando no horizonte. Seus promotores são as grandes seguradoras e a desculpa é fazer um seguro nacional contra catástrofes climáticas como as recentes enchentes no Sul.
O motivo é parecido e o truque é basicamente o mesmo das sacolinhas: retira-se um pouquinho do bolso de muitos para encher o de poucos. O valor para bancar as indenizações viria de um fundo formado pela contribuição compulsória de todo usuário de celular que tem conta pós-paga. Só 2% da conta, mixaria.
Mas são 115 milhões de contas, com valores mensais de 40 ou 50 reais para cima. Um negócio bilionário, sem custo de venda, cobrança ou inadimplência. E sem clareza sobre as obrigações a cumprir, pois não seria tão simples definir com exatidão o que é uma catástrofe climática e quem deve ser indenizado por ela.
O assunto apareceu até agora em cantinhos dos jornais, mas, com os montantes envolvidos, não seria surpreendente se ele já estivesse mais evoluído entre os interessados e políticos que teriam que aprovar a mudança e depois indicar diretores para os órgãos governamentais que fiscalizariam todo o processo.
Quanto aos que só vivem para o assunto, como as ONGs picaretas e outros profissionais do amor à natureza, nem é preciso falar. Pode ser que o planeta acabe sendo destruído pelo calor, pela colisão de um meteoro ou mil outros motivos. Mas falta de esperteza certamente não será um deles.
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