sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Pânico pelo celular

Quando Silvio Santos tentou ser candidato à presidência em 1989, a mobilização para tirá-lo do jogo foi pesada. Manobraram para que ele não pudesse concorrer pelo PFL; na penúltima hora ele entrou no pequeno PMB, onde nem seu nome apareceria nas cédulas já impressas; no último instante deram um jeito de anular sua candidatura.

O cenário se repetiu quando ele tentou se candidatar à prefeito de São Paulo em 1992. E para infelicidade geral da nação - imagine o Brasil pegando o boom das commodities sob o comando do Senor - voltou a se repetir em 2002, com a única diferença de que cortaram suas asas muito mais cedo que das outras vezes.

As raposas sabiam o que estavam fazendo, pois alguém com aquela popularidade e aquela exposição na TV chegaria no mínimo ao segundo turno. Hoje, no entanto, um apresentador de sucesso como José Luiz Datena é um zumbi eleitoral. A força está com Pablo Marçal, um outsider que montou um reino nas redes sociais.

A única surpresa disso é que, um século depois, tem gente que ainda não se acostumou com a influência da tecnologia na política. Aquele pessoal que sempre culpou o rádio pela ascensão do nazismo e depois virou o nariz para quem vinha da TV, agora se espanta com os políticos que parecem brotar de repente no novo solo.

Porém a mudança é inevitável. O contato pessoal ainda pode se sobrepor a tudo numa localidade pequena, o rádio e a TV continuam influenciando pessoas, mas quando se trata de multidões não há nada potencialmente tão impactante como a internet via celular. Hoje, amanhã tudo pode mudar.

Pânico na esquerda

Por motivos que deveriam lhes preocupar, são os esquerdistas, que se dizem representantes dos interesses das massas, os mais apavorados com as possibilidades de interação oferecidas pelos novos tempos. E o fenômeno é mundial, mas ganha tons de comédia na cidade de São Paulo.

Em primeiro lugar eles já não têm, literalmente, palavras para usar. Depois de classificarem Bolsonaro como ultradireita ou similares, não sabem o que dizer sobre alguém que o enfrenta pelo outro lado. Alguns estão apelando para o tradicional "fascista", mas isso deixa implícito que Bozo não o é. Está difícil.

E o pior (para eles) é que o crescimento do megaultra pode matar o Açucarado no primeiro turno. Ontem surgiram até apelos para os eleitores da mascote de bilionário votarem útil desde já. Um segundo turno entre Marçal e um Nunes apadrinhado por Bolsonaro lhes pareceria um verdadeiro pesadelo.

Vã esperança

Tentando se autoconsolar, alguns esquerdistas assumidos e enrustidos (isentões) salientam que Marçal está ganhando muitos votos entre os eleitores identificados como bolsonaristas, numa "desobediência" que representaria o começo do fim para o próprio Bolsonaro.

Mas uma coisa é recusar um indicado sobre o qual todos sempre tiveram dúvidas em uma eleição para prefeito. Outra seria imaginar que alguém do lado direito poderia vencer Bolsonaro ou um seu herdeiro fiel numa eleição presidencial. Um dia isso acontecerá, é óbvio, mas não deve ser em 2026.

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