quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Não é possível!

Não é possível que alguém aceite que a "democracia" possa ser abalada pelas postagens de uma adolescente de 16 anos, que bloqueiem as contas com que ela e os irmãos menores se sustentam ou enviem a polícia à sua casa e ameacem prender sua mãe caso a filha continue a utilizar redes sociais.

Não é possível que alguém considere normal a conduta de um juiz que manda encontrar "alguma coisa" contra uma revista que ele deseja quebrar ("desmonetizar"). Ou não desconfie que há algo errado quando seus subalternos são gravados tentando disfarçar o que se veem obrigados a fazer.

Não é possível que alguém não note que a democracia está fraturada desde 2019. Não por Bolsonaro, que nunca tentou censurar as redes ou prender alguém por opinião política. Mas por quem abriu um inquérito baseado em nada e não o fechou até agora porque nele se baseia para fazer o que bem entender.

Um inquérito que aplicou o regimento interno do STF, que trata de infrações cometidas na sede do tribunal, a uma crítica veiculada pelas redes sociais! E que além desse vício básico aceita que um juiz seja ao mesmo tempo acusador, vítima e o que mais lhe interesse. É possível que alguém não veja que isso está errado?

Principalmente na imprensa, muitos fingiram não ver e hoje estão desembarcando do barco furado. Mas isso é incipiente e restou o gado que eles convenceram a aceitar qualquer barbaridade chancelada pelas "autoridades", que passou a se identificar com estas e se sentir parte dos que cometem abusos impunemente.

Apaixonado pelo poder fantasioso que conquistou, ele se recusa a largá-lo. Se o jornal pelo qual "se informava" volta a chamar os absurdos pelo nome, ele se refugia no blog petista que continua a mentir. Qualquer rebanho onde digam que está certo lhe serve, ele só não pode ficar sozinho e pensar por conta própria.

Foi para esse tipo de leitor (que nem deve lê-lo, na verdade) que Paulo Polzonoff escreveu, na Gazeta do Povo, o texto com o qual encerrou uma de suas últimas crônicas e nós encerramos a nossa:

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(...) à noite, antes de botar a cabeça no travesseiro, você não pensa no sofrimento daquelas pessoas, um bando de zé-ninguém sem vocação pra ditador, e que só estava repetindo aquilo que viu os esquerdistas (PT, MST, PSOL...) fazerem incontáveis vezes, sem que ninguém jamais os punisse por isso?

Mais: será que você realmente deseja que essas pessoas, pais e mães de família, pequenos empresários, profissionais liberais, assalariados, uns doentes e outros idosos, mofem na cadeia por causa de umas vidraças e um relógio quebrados? Você nunca ouviu falar de misericórdia? De Justiça? Você não teme olhar para trás, daqui a alguns anos, e perceber que apoiou um regime de repressão, um Estado policialesco, uma ditadura?

Imagine a vergonha! Ou todo o esforço que você vai ter que fazer para, um dia, negar que foi um colaboracionista disso aí. E tudo para quê? É por dinheiro que você contraria o mais elementar dos bons sensos? Ou será que é em troca de aceitação, sempre ela, essa droga que nos joga para a estratosfera com seus milhares de likes e meneios de cabeça?

Seja lá o que motive a sua crueldade, o seu punitivismo de ocasião ou sua defesa de uma democracia que todos sabemos ser falsa, obrigado por ter me lido até aqui. Se não consegui te convencer, espero ao menos ter conseguido pôr uma pulguinha atrás da sua orelha. Quem sabe assim um dia você se dará conta de que está agindo igualzinho àqueles que vê nas imagens de 1939, e fala: “Não é possível!”. É, sim. Por causa de gente como você.

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