"Cincinato, o homem que voltou ao arado" foi uma das primeiras coisas que eu li e nunca mais me saiu da memória. Era o título de um pequeno artigo de uma daquelas coleções de livros que as famílias tinham no tempo em que não existia internet e os vendedores de enciclopédia batiam nas portas.
Roma ainda era fraquinha e o pessoal chamou Cincinato para comandar suas tropas contra os bárbaros que a ameaçavam, nomeando-o, como era regra nessas ocasiões, ditador a quem todos deviam obediência. Ele largou o arado, veio, viu e venceu (ops)... e voltou a arar seus campos, abdicando de um poder do qual poderia abusar.
Acho que ele foi relativamente famoso até algumas décadas atrás, os Cincinatos que viraram nome de rua estão aí para provar. Hoje o esqueceram. Mas o romano foi repentinamente resgatado pelo Joel Pinheiro da Fonseca, que, na Folha-Foice de ontem, o ofereceu como exemplo a ninguém menos que Joe Biden.
Segundo nosso bacharel em filosofia (está no seu currículo), todos aplaudiriam o bom velhinho se ele voltasse a cuidar dos assuntos familiares após ter afastado o bárbaro de cabelo laranja que ameaçava a cidade. Pode ser, Joel, pode ser, só que esse momento já ficou no passado.
Nosso Cincinato assumiu o poder e queria continuar. Os bárbaros retornaram e ele saiu para combatê-los, mas as primeiras escaramuças mostraram que não dá para confiar em seu estado mental e o pessoal agora quer que ele vá arar um campo para algum outro comandar o exército. Como ele será lembrado? Como despojado ou como pirado?
Talvez a história original tenha sido outra, Cincinato queria manter o poder, mas os patrícios o obrigaram a se afastar e concordaram em inventar a versão que conhecemos para que sua família tivesse um nome do qual se orgulhar. Hoje em dia não dá para fazer isso, o nome Biden sairia inevitavelmente por baixo.
Além disso, Biden e seus familiares sabem que o seu bárbaro ameaçador é apenas uma fake inventada por fricoteiros como o Joel. Ele não passa de um romano que representa um setor da sociedade que já esteve no comando da cidade e cedo ou tarde voltará para lá. Não há nem haverá nenhuma guerra de verdade.
Isso se outro fricoteiro que escreve na Folha, o português João Pereira Coutinho, estiver errado. Em entrevista ao pessoal do atual site do Mainardi, ele assegurou que se Trump voltar à presidência os EUA acabarão tendo uma nova guerra civil. Fica o registro para a gente cobrar depois.
Bola pra frente
A única guerra que rola nos EUA por enquanto é a do futebol, setor no qual já tivemos vários Washingtons e até um clássico no Maracanã em que Nixon enfrentou Kenedy (sem êne dobrado). Poderemos ter daqui a alguns anos um Baiden, o nome é falado por aí e tem lá sua sonoridade.
Mas eu só entrei no assunto para ressaltar que, como os últimos técnicos da Seleção, sempre fui adepto de um meio de campo com três volantes... desde que eles se chamem Batista, Falcão e Toninho Cerezo. Fora algo parecido com isso, não sei como alguém pode imaginar que um esquema desses leve o time muito longe.
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