quarta-feira, 8 de maio de 2024

Anseio por liberdade

Boas surpresas nas pesquisas. Não a de que o apoio ao desgoverno baixou mais um tanto porque isso é como o equilíbrio do arcabouço fiscal, basta deixar que os que acreditaram passem a perceber como foram enganados. A pesquisa a que nos referimos é outra, mas vamos dar uma volta até chegar lá.

Em seu X, a jornalista que vive em Nova York desde 1784 publicou um link para um artigo de "leitura obrigatória" chamado The New Propaganda War (aqui), que é quilométrico, mas pode ser resumido a duas ideias básicas:

A segunda, sobre a qual gira quase todo o texto, é que os autocratas de China, Rússia e similares estão numa campanha sem tréguas para desacreditar a democracia ocidental. E os trumpistas acabam por auxiliá-los ao fazer críticas ao processo eleitoral e ao establishment em geral.

Em suma, o artigo tenta, malandramente, blindar as deturpações do sistema (Biden) e acusar quem as denuncia (Trump) de cumplicidade com as ditaduras estrangeiras, ainda que involuntária. Se a decana dos viventes em Nova York o recomendou, a gente já imaginava que não podia ser outra coisa.

Mas por que os autocratas em questão decidiram gastar energia para desmoralizar a democracia ocidental? Eles não poderiam ter ficado na deles, administrando seus currais em paz? Aí é que está a ideia inicial.

O caso analisado é o chinês. O antigo país agrário se desenvolveu e viu surgir uma classe média que se sentia próxima da ocidental e passou a almejar a liberdade que esta tinha e lhe era negada. Esse processo atingiu sua culminância em 1989, quando uma multidão se reuniu para protestar pacificamente na Praça da Paz Celestial.

A resposta do regime foi terrível. Centenas de manifestantes foram assassinados na própria praça e a mão de ferro do comunismo baixou sem disfarces sobre a nação. Até movimentos apolíticos como a Falung Gong foram perseguidos. E depois de muitas prisões, mortes e exílios, todo mundo se calou.

Porém o governo passou a monitorar com mais cuidado as reações das pessoas e descobriu que quanto mais apertava o parafuso, mais descontentes elas ficavam. Ninguém era louco de expressar seu descontentamento, mas este crescia. E o que cresce enquanto permanece tampado pode um dia explodir.

Foi então que eles decidiram passar a um controle mais sutil, "liberando" as manifestações de opinião em uma internet supercontrolada e lançando a tal campanha para tentar convencer seu povo e os estrangeiros de que a democracia ocidental não é assim tão livre e maravilhosa como dizem, não é tão diferente do que eles têm por lá.

Se eles terão sucesso a longo prazo ninguém pode saber. Mas a mensagem positiva de tudo isso é que o anseio por liberdade não pode ser facilmente eliminado. Quem já a experimentou não aceita sua supressão e, se isto não o colocar em perigo, provavelmente tentará recuperá-la quando tiver essa oportunidade.

É aqui que termina a nossa volta e entra a pesquisa de que falamos no início. O Instituto Paraná perguntou e 32% dos entrevistados responderam que está tudo bem e nada se alterou, mas 61% concordaram que um cidadão "pode ser punido por falar ou escrever o que pensa" no Brasil de hoje.

A extensão da percepção é uma excelente surpresa, dá para dizer que, afora os muito alienados ou o gado que gosta de ser censurado, a população entende que sua liberdade de expressão está sendo roubada - uma questão pessoal quando todos se expressam através da internet. Os números falam por si, agora é trabalhar sobre eles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário