Eu imaginava que a Escócia era muito diferente do Brasil, mas mudei de ideia quando soube que lá também foi executada, com sucesso, a campanha da "pobreza menstrual". Se os psicólogos dos grandes fabricantes de absorventes higiênicos viram uma semelhança entre a idiotice dos nossos povos é porque ela deve existir.
Assim é bom nós ficarmos alertas porque acaba de entrar em vigor uma lei escocesa que pune "crimes de ódio", voltada para a "proteção" de você sabe quem. A escritora J. K. Rowling, que vive na Escócia e tem costumes estranhos como chamar "pessoa que menstrua" de mulher, já avisou, com ironia, que está esperando pela prisão.
Em resposta, o primeiro-ministro Humsa Yousaf (integrante dos 20% dos 5,5 milhões de habitantes que não têm os quatro avós escoceses) declarou que a lei não se aplica a casos como o dela, que as pessoas continuarão a ter direito a expor suas opiniões e tudo aquilo que você também sabe.
Pelo que diz a lei, no entanto, a polícia deve entrar em ação sempre que houver "discurso considerado odioso" sobre raça, religião, idade, deficiência, orientação sexual ou identidade trans. E as garantias de que você pode falar mal de algum desses temas se restringem à religião, o patinho feio do grupo.
Com o resto, tome cuidado com o que você diz. Mesmo entre quatro paredes, pois o discurso não precisa ser público; se alguém pegá-lo dizendo algo errado dentro de casa pode denunciá-lo à polícia. E você talvez nunca saiba quem o entregou, pois denúncias anônimas podem ser feitas para um dos centros de "hate crime" do país.
Imagino que uma denúncia sem provas deve gerar apenas uma visita de alerta. Mas pense como seria fácil obter provas para condenar alguém num mundo em que todos têm um celular. O falso amigo pode gravar o que você diz na mesa do bar, o vizinho pode filmá-lo pela fresta da janela, as possibilidades são inúmeras.
E o pior de tudo é, evidentemente, o "discurso considerado odioso". Quem considera? O que é ofensivo para um é engraçado para outro, não há como definir essas coisas com exatidão. Abre-se um espaço para a subjetividade que pode deixar qualquer um na mão da opinião pessoal do denunciante, do policial ou do juiz.
Poucos anos atrás, o deputado Jean Wyllys quis inventar uma lei que punia ofensas a gays e as definia de acordo com o sentimento; era ofensa se o gay se sentisse ofendido. Na ocasião não deu certo, mas hoje, quando alguém pode ser condenado por "tentativa armada" sem armas, quem garante que algo não poderia ser implementado?
A Escócia parece distante, mas a subjetividade da lei deles já se tornou corriqueira na nova lei não escrita daqui. Daí a aplicá-la à "proteção da identidade trans" ou coisa parecida é só um pulinho. Podemos vir a ser colegas dos escoceses em mais coisas do que os absorventes utilizados pelas pessoas que menstruam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário