A coisa não anda fácil para quem passa pelas manchetes diárias em busca de algo para comentar. Como a ala que defende que é melhor não falar de Bolsonaro parece ter ganhado força novamente nos últimos dias, nossos jornais perderam aquele tom estridente e estão que é uma pasmaceira só.
Claro que eles poderiam falar da explosão dos gastos públicos, da fuga de investidores estrangeiros, dos fugitivos de Mossoró e de inúmeros outros problemas. E alguns até falam. Mas tudo é meio insosso porque eles parecem proibidos de chegar à raiz do problema e citar o nome do ex-presidiário.
As poucas referências a ele são laterais como a notícia, que alguns dão nos cantinhos, de que a ex acusou seu filho de agressão. De resto sabemos, por exemplo, que as facções criminosas estão lutando pelo controle das rotas de tráfico da Amazônia e já dominam o pequeno Amapá. Mas isso não parece ter nada a ver com o desgoverno.
Tudo é noticiado como se fosse parte da natureza, como se a migração dos bandidos fosse a de uma espécie de macacos cujas tribos agora brigam por espaço. Uma curiosidade a ser observada pelos estudiosos da área, tão fora do controle humano como o terremoto que acaba de acontecer em Taiwan.
Sereníssima
De onde menos se espera, de vez em quando sai. Quem nos oferece um tema interessante é o Mainardi, que hoje deixa de culpar Bolsonaro por tudo para dizer que sua idolatrada Lava Jato começou a terminar em 2017, quando bateu em Aécio Neves e este bateu um fio para o amigão Gilmar Mendes, até então defensor da operação.
Concordo com ele. E entendo quem defende que a operação deveria continuar até pegar cada ladrão, pequeno ou grande, mas não concordo com isso. A Lava Jato já havia pegado o maior criminoso da história da nossa política e deixado todos os outros em alerta, dali em diante eles sabiam que era necessário se comportar.
Voltemos à pergunta: a Lava Jato era uma operação que devia ter fim ou um quarto poder cuja atuação se estenderia indefinidamente (pois sempre haveria mais um ladrão a pegar)? A resposta é óbvia. Como era uma operação, ela precisava acabar e devia ter feito isso ali, saindo por cima como Pelé do futebol.
Na teoria você deve punir todos que erraram, na prática isso não funciona. No momento em que você está lidando com políticos que vinham de um tempo em que cada um cometeu suas falcatruas e anuncia que não vai parar até pegar todo mundo, é óbvio que todo mundo vai querer acabar com você antes.
A situação não é uma exclusividade brasileira. Ao final da Primeira Guerra os aliados puniram a Alemanha com rigor excessivo e ganharam de presente a Segunda. Ao final desta puniram os piores e passaram a trabalhar com os outros. Criador da tecnologia que aterrorizou Londres, Von Braun acabou como herói da chegada à Lua.
Imagine então se Bolsonaro se comportasse como alguns queriam, negociando com os deputados enquanto tentava colocar parte deles na cadeia. Impossível. O Executivo não é um braço do Judiciário, seu combate à corrupção consiste em não permiti-la, não em punir quem a praticou antes. Isso os lavajatistas ferrenhos também não entenderam.
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