Pensar em cometer um crime, ou mesmo discutir sua futura execução sem nada tentar, não é punível de acordo com a lei e o senso comum. Decretar Estado de Sítio ou de Defesa não é crime, é um direito que o presidente tem após ouvir conselhos como o de Defesa, mas que o Congresso pode a seguir cancelar por maioria simples.
No entanto, no distópico Brasil atual, ter pensado em decretar Estado de Defesa ou de Sítio (e desistido a seguir) passou a ser um crime terrível que pode condenar o culpado a penas superiores a 30 anos, segundo escrevem por aí nossos juristas-jornalistas-precogs de plantão.
Como eles embaralham propositalmente tudo que escrevem, você poderia até imaginar que esses juristas não sabem que a decretação de qualquer dos dois Estados está prevista na Constituição Federal. Mas lendo com mais cuidado percebe-se que sabem bem, só não querem falar do assunto porque atrapalha o que vem depois.
É aí que entra realmente a sua parcela precog. Eles não explicam muito bem como se daria a coisa, a visão deve estar meio turva, a gente não fica sabendo detalhes importantes. Mas o segredo de seu raciocínio é que o Estado de Sítio (ou de Defesa) se transformaria num golpe ditatorial.
Teríamos então um golpe com autorização do Congresso e por tempo definido? Ou o Congresso negaria sua autorização e aí sim viria o golpe com tanques na rua, a ilegalidade em si?
Ôpa, vamos ter que voltar uma casa. Que tanques Bolsonaro teria se os próprios jornalistas estão afirmando que um chefe militar teria ameaçado prendê-lo se tentasse fazer algo fora da lei? Como se daria a passagem da parte legal, que envolve a decretação de um dos estados, para a ilegal?
De acordo com a lógica dos fatos que eles mesmo nos apresentam como indiscutíveis, o presidente teria a aprovação do Congresso e seria obrigado a fazer tudo dentro da lei, respeitando inclusive o prazo máximo de excepcionalidade. E seria automaticamente preso se tentasse ir em frente sem a aprovação do Congresso.
Mas os precogs de nossa imprensa operam em outra dimensão. Segundo eles, o que importa é que o presidente PRETENDIA de algum modo pular da esfera legal para a ilegal, era nisso que ele estava PENSANDO. Trata-se, portanto, de discutir sua INTENÇÃO. Volta-se sempre ao estágio inicial.
Sabinada
Mais inteligente que a média dos colegas, Mário Sabino imaginou outra possibilidade. Na sua versão, seria necessário encaixar o tema acima no 8/1 para dizer que Bolsonaro percebeu que não teria apoio dos militares para dar o golpe através da decretação do Estado de Sítio e decidiu fazer isso através das velhinhas com Bíblia.
O ex-anta reconhece que não há evidência real de que ele comandou aquele movimento, mas é isso que se deve procurar. E aqui ele nos decepciona, pois nós sabemos bem: ele mandou as velhinhas para lá através dos zaps hipnóticos que deram início a tudo. Tudo fecha, tudo bate. Pô, Sabino, que falta de imaginação.
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