segunda-feira, 18 de março de 2024

Lei da selva

Qual é o verdadeiro Gilmar Mendes, o que dá entrevista para o público mais civilizado da TV europeia ou o que fala para a militância raivosa da TV 247? Por caráter, talvez nenhum dos dois. Mas em qual das ocasiões ele tenta se mostrar como o magistrado exemplar que deveria ser?

Não é muito difícil responder. "Não havia nos envolvidos naqueles acontecimentos (do 8/1) nem mesmo a intenção de tomar o poder, aquilo foi uma baderna, jamais um golpe", é mais ou menos o que o sensato e realista cultor das leis diz aos entrevistadores portugueses no filmezinho que circulou ontem pelas redes.

Lá, ele evitou até os gerundismos brasileiros (mas que Camões já usava) para se adaptar a quem o assistia. Ao voltar para a taba, no entanto, jogou fora aquela roupagem e entrou na dança dos canibais, cantando também com gosto: "Vamos usar os capturados para botar terror na área e inventar que evitamos um golpe perigoso."

Uma vingança selvagem, a isso se resumem os esforços dos que fingem se escandalizar até com discussões sobre mecanismos constitucionais e tentam tentar punir alegadas "intenções golpistas". A lei é só um velho calção Adidas que de vez em quando eles vestem para tentar esconder as maiores vergonhas.

Missionários

No tempos antigos, eram os religiosos que se dedicavam a catequizar os selvagens. Agora, enquanto torturam as vítimas de suas inquisições arbitrárias, são estes que pretendem atrair para a selva os que têm valores mais elevados. "Precisamos falar com os evangélicos" é um cântico que volta a ser entoado.

Pelo menos é o que diz uma integrante da tribo, Monica Bergamo, relatando pedidos para que o grande morubixaba se envolva diretamente nessas negociações. Mas, apesar deles terem tanta fé nos poderes mágicos de seu líder, será que isso não serviria apenas para queimá-lo depois de tudo que já aconteceu?

Só para dar um exemplo, ele vai prometer proteger os bebês que seus pajés insistem em jogar do penhasco? Já fez isso tantas vezes no passado e sempre mentiu. Por que agora seria diferente? Sua credibilidade fora da aldeia é muito pequena. E nada indica que ele esteja disposto a se envolver pessoalmente nesses assuntos.

Foi ele quem lançou o "precisamos falar com os evangélicos" ao sair da cadeia ao mesmo tempo que a covid escapava do laboratório chinês. E "precisamos" não é "eu preciso", é uma ordem para a indiada se mexer e o grande comandante só aparecer ao final em caso de vitória. O cara é cacique, só quer mandar.

Vai e volta

Voltando à vingança, até aonde ela irá? A lei não é um limite, qualquer desculpa serve para descartá-la. Destruir toda a nação inimiga é inviável. Será possível oprimi-la por muito tempo e com muita força? Essa é a dúvida, pois a história da selva é repleta de reviravoltas e o exagero cometido hoje pode se voltar contra seu autor mais à frente. Muito canibal furioso já terminou seus dias como refeição.



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