quarta-feira, 27 de março de 2024

Código da Bíblia

Você destaca as letras a intervalos regulares para formar mensagens inesperadas? Não, não, me refiro ao artigo "Bolsonaristas usam a Bíblia para falar em código", publicado na Folha de SP por Juliano Spyer, que ainda quer dar um jeito de levar os companheiros evangélicos para o altar do Baaladrão.

Não está fácil, ele reconhece, porque a resistência ao bolsonarismo tem enfraquecido no segmento. Os poucos que não viraram bolsonaristas se afastaram de suas igrejas ou não abrem a boca para não perderem as vantagens que estas oferecem em termos de convívio social e redes de solidariedade.

Um sociólogo mostra como a coisa é grave: "O bolsonarista continua lá, conversando com as pessoas em todos os cultos. Já o governo Lule é visto como algo externo às igrejas. E segundo a lógica maniqueísta do pentecostalismo, quem está de fora é inimigo."

E um pastor mortadela diz ter a solução do problema: "A esquerda precisa resgatar o aspecto social da Bíblia para fortalecer debates sobre pobreza, racismo e sustentabilidade dentro das igrejas."

Não é divertido? A esquerda passará a ler a Bíblia para depois dizer o que os evangélicos devem pensar em termos de "pobreza, racismo e sustentabilidade". O pastor só esqueceu de explicar como eles vão debater se ninguém quer perder tempo ouvindo suas asneiras e, como até o Luciano alerta, as igrejas estão cheias de pessoas que, embora humildes, conhecem a Bíblia muito melhor que eles.

Mais divertido ainda é que eles não percebem que o enfoque social sempre será secundário numa religião, igreja não é sindicato. O que o mortadela que se diz pastor propõe é criar uma versão evangélica e meio woke da Teologia da Libertação, que não passa de idolatria barata porque seu verdadeiro objeto de adoração é "o pobre"

E o código?

Para mostrar o quanto é cosmopolita, Luciano invocou um sociólogo brasileiro de uma escola de Paris para dizer: "Em muitas coisas, a extrema direita não é inteligente. Mas em outras, ela é genial. E a estratégia de expandir o conceito de corrupção política para incluir a degeneração moral é brilhante."

Na prática, isso significa que os "evangélicos bolsonaristas" se dedicam a colocar o pessoal da igreja contra o PT associando a roubalheira típica do partido à sua defesa do assassinato de bebês ("direito ao aborto" para o religioso Luciano), casamento gay e temas similares. Aqui é que entra o código:

Usa-se a Bíblia como uma espécie de código. Quem não tem esse repertório não sabe o que está sendo dito ou não avalia seu efeito. Por exemplo, quando o deputado Nikolas Ferreira chama o presidente Lule de "o nosso inimigo" - como fez repetidamente durante o evento de apoio a Bolsonaro em fevereiro -, ele conecta os campos da política e da religião. Se o inimigo de Deus é o Diabo, o inimigo do povo evangélico é...

Acontece que o código funciona porque tem sentido, Luciano, o seu Baaladrão rouba porque é um depravado, não tem nem a desculpa da necessidade que poderia invocar nos tempos em que afanava trocados da gaveta do sindicato. A desonestidade intelectual e as degradações morais são apenas outras manifestações da podridão fundamental.

Na verdade o pessoal está até pegando leve com vocês, pois, mesmo sem a roubalheira e as pautas morais, o que foi dito acima sobre a tentativa de desvirtuar a Bíblia para tentar mostrá-la como um texto dedicado a discutir "pobreza, racismo e sustentabilidade" já seria suficiente para associar sua seita ao inimigo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário