terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Terra prometida

Eu não ouvi nem li os discursos da manifestação do último domingo, mas Paulo Polzonoff Jr. os escutou na íntegra e os comentou em sua coluna na Gazeta do Povo de ontem. Vou resumir a seguir uma parte do seu relato, começando pelo momento em que, "visivelmente emocionada", Michele Bolsonaro toma a palavra.

Sua emoção pareceu sincera a Paulo, que destacou o trecho em que ela diz que, de tanto falarem que não se pode misturar política e religião, esta foi deixada de lado e o mal tomou conta daquela. Depois Michele recita o Salmo 24, pede que digam "amém" e "a manifestação se transforma num culto".

Gustavo Gayer fala.

Nikolas Ferreira fala e impressiona favoravelmente o colunista. "Nós não temos o direito de ter menos persistência do que o nosso inimigo", é uma de suas frases. "Talvez não vejamos o Brasil prometido, mas os filhos ou os filhos de nossos filhos verão", diz o jovem deputado. "O presente é deles, mas o futuro será nosso", ele conclui.

Magno Malta fala num tom "assustadoramente apocalíptico".

O discurso de Tarcísio "é o mais técnico", com ênfase na economia e nos feitos do governo de Bolsonaro, que, segundo o governador, deixou de ser uma pessoa e agora "representa um movimento".

Quem mais impressionou o colunista foi Malafaia, que começou dizendo que não foi lá atacar o STF, mas mostrar a "engenharia do mal". Num discurso grave, ele diz que Bolsonaro "fumou o cachimbo da paz", defende o direito de se questionar o pleito como "o PSDB de Alexandre de Moraes" fez em 2014 e fala do 8/1. Paulo escreve:

"Escute, escute por favor", pede. O silêncio da plateia é impressionante. "O sangue de Cleriston está nas mãos de Alexandre de Moraes", diz. Nem acredito que vou dizer isso, mas vou: foi um discurso histórico de Silas Malafaia. Não que vá mudar alguma coisa. Tampouco figurará nos livros escritos por um Élio Gaspari do futuro. Mas que foi histórico, foi.

E daí?

Bem, há uma linha geral. Com exceção do católico Tarcísio que acrescentou o necessário tempero técnico, todos os que discursaram são evangélicos e, aberta ou implicitamente, se referiram a temas considerados religiosos, como luta do bem contra o mal e busca da terra prometida (Brasil prometido).

Isso já seria interessante se, como tanto temem os petistas com razão, servisse para fidelizar o crescente eleitorado evangélico. Porém tudo vai mais longe porque não estamos falando (pelo menos, não apenas) de antigos eventos históricos.

Sempre há um Egito de que se libertar e uma terra de leite e mel a que se dirigir. E não é preciso explicar essas coisas a ninguém porque elas já estão dentro das pessoas. Quando se chega a uma situação como a atual, basta sugerir as similaridades para o padrão ser reconhecido de imediato.

Em suma, me parece que o posicionamento para a luta de valores que temos pela frente está fundamentalmente correto. E estaria mesmo que não tivéssemos um arquivilão que é a cara do prepotente faraó feito pelo Yul Brinner.


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