quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

A nossa moral e a deles

Um bom teste para saber se você está num regime de plenas liberdades democráticas é verificar se as pessoas correm o risco de ser presas pelo que fizeram/tentaram ou apenas pelo que disseram, ou pelo que alguém decidiu em sua mente que elas poderiam talvez tentar fazer. Outro teste consiste em ver quem pode dizer.

Imagine os discursos, as poses, o rebuliço em que estaria hoje o país se algum jornalista de direita tivesse escrito que grupos de brutamontes cooptados por sua ideologia violenta deveriam ser elogiados por impedir que ordeiros cidadãos petistas utilizassem o transporte público para participar de uma manifestação a favor da Liberdade e do Estado de Direito.

Se tudo está calmo é porque foi o contrário. Milly Lacombe, uma imbecil de extrema esquerda albergada no UOL, não teve nenhum receio de defender os marginais de uma torcida organizada que, no último domingo, impediram o acesso de pessoas vestidas com camiseta da Seleção a vagões do metrô.

O motivo? Os barrados não eram humanos, não do ângulo do Partido que, para gente como a Milly, deve estar acima de tudo e todos. Eles seriam chamados de reacionários burgueses no socialismo soviético, de judeus no socialismo antissemita da versão germânica do Partido dos Trabalhadores. No caso em questão eram bolsonaristas.

No tempo do Stalin e do PT alemão era só fazer um desenho ao estilo "aeroporto de Roma" para mostrar os bolsonaristas como uma gente pérfida e imunda que o grupo de idealistas limpinhos teve coragem de enfrentar. O problema é que hoje em dia todo mundo tem uma câmera e a cena filmada mostrava o contrário.

Milly não se apertou. Não se deixem enganar pelas aparências, ela escreveu, os fortões com cara de bandido são os bonzinhos, aquelas senhoras e aqueles senhores que parecem gente boa são agentes de um mal pavoroso, que nós devemos estar sempre preparados para destruir sem perdão.

Como alguém observou ontem, não poderíamos encontrar melhor exemplo da "moral revolucionária" do camarada Trotsky - um comunista que ficou com fama de bonzinho, mas era tão criminoso quanto Stálin -, que usa os preconceitos burgueses contra a própria burguesia enquanto faz o que é necessário para a glória da Revolução.

Isso não acontece agora por acaso, você já encontra indícios dessa "moral" na satisfação que tantos manifestam ao, por exemplo, ver pessoas simples, que no fundo sabem ser inofensivas (e até ingênuas), presas de modo irregular, mortas na prisão ou condenadas a penas absurdamente extensas.

Voltando ao teste citado no início, o que aconteceu com a Milly e o UOL? Nada, o assunto passou em branco. E nem poderia acontecer porque essa é a moral deles, aquela que o atual regime e a imprensa a ele subordinada têm procurado inocular na sociedade de maneira menos explícita, mas igualmente ardorosa.

Apesar dos pesares, fiquemos com a nossa.

Como ponto positivo, fica o fato dos integrantes da organizada, que respiram futebol, terem reconhecido os bolsonaristas pelo uso da camiseta da Seleção. Tentaram acabar com o "sequestro", até o PiNGa a vestiu. Mas não deu certo.

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