quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Sai ultradireita, entra nacional-conservador

Três artigos nos dois jornalões paulistas, três gringos falando sobre temas próximos. No primeiro, após dizer que o liberalismo moderno pretende ser "eticamente cosmopolita" e o nacionalismo viola essa ética, Deirdre N. McCloskey lembra como o liberalismo melhorou a vida de todos de 1776 para cá e pede: "Vamos valorizar isso."

Mas alguém não valoriza? Há gente com a percepção errada? É o que diz Paul Krugman ao constatar que eleitores republicanos e independentes não reconhecem que o combate à criminalidade e a economia vão bem em termos estatísticos na era Biden e repetem que os EUA estão à beira do desastre nesses campos.

O estúpido descobriu que não é a economia (ou a criminalidade). É outra coisa. Mas como a economia continua a ser mencionada como motivo, Krugman se perde e termina perguntando: "Como vamos funcionar como país quando um grande número de pessoas simplesmente enxerga uma realidade diferente do resto de nós?"

Puxa vida, tem gente discordando de "nós", não valorizando a economia, desprezando o liberalismo que nos deixou tão bem e violando sua ética com o nacionalismo. Tem, e o que junta essas pontas é um artigo não assinado da The Economist: Como o risco do nacional-conservadorismo cresce nas novas dinâmicas globais.

Segundo o texto, Reagan e Thatcher construíram um novo conservadorismo em torno de mercados sem fronteiras e liberdades, inclusive as individuais. Mas, atualmente, Trump e seus iguais querem criar um conservadorismo estatizante, que coloca a soberania nacional acima do indivíduo.

Mas por que as pessoas aceitariam perder as vantagens econômicas desse mundo integrado e ainda ter sua liberdade tolhida por um Estado forte? A resposta simples, que a revista evita dar, é que elas estão sentindo que tanto seus sustentos quanto suas liberdades estão sob ameaça de um Estado Global cujos membros não elegem.

É mais fácil ter um reunião ter uma reunião com o prefeito que com o governador. E é mais fácil reclamar do presidente que de um poder que nem sabe onde está, mas já mostrou sua ânsia por impor padrões sem perguntar a opinião de ninguém. Qualquer vantagem oferecida por esse arranjo pode facilmente degenerar em escravidão.

Quem escreveu o artigo não é burrinho e reconhece essas queixas com outras palavras, embora tratando-as como meros fantasmas explorados pelos nacional-conservadores. Estes "suspeitam" que os mercados são manobrados por elites e "consideram" que instituições internacionais estão manchadas por lacrações e globalismos.

O autor chega a dar uma receita geral para diminuir o medo da assombração: reconhecer as queixas das pessoas, dar importância ao sentimento natural de patriotismo, considerar o efeitos das novas tecnologias etc. Não basta sinalizar virtude com uma arrogância que só levará mais água para o moinho nacional-conservador.

O artigo ainda menciona o crescimento dos partidos de "extrema direita" e termina reiterando sua crença de que o verdadeiro liberalismo "nesse momento está ficando para trás", mas tem sua força na adaptabilidade e também pode se adaptar ao nacional-conservadorismo.

Mas será que pode mesmo?

Entre as recomendações acima referidas está a de que grandes empresas, jornais e universidades encarnem os princípios do liberalismo em vez de sucumbir à censura e ao pensamento de grupo. E também a de não ser "reticente demais" na defesa da liberdade de expressão e dos direitos individuais.

Ora, que raio de liberalismo é esse que precisa ser lembrado disso? Meio sem querer, o autor deixa claro o quanto seu movimento se deturpou e se tornou autoritário, fazendo bem mais seguro confiar nas solução dos nacional-conservadores do que numa improvável regeneração dos "eleitos" em quem ninguém votou.




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