Como disse ontem a senadora Damares Silva, esperava-se que o PT contivesse as mortes entre os yanomamis. Afinal, com autorização para gastar quase sem limite e um problema limitado a uma pequena população, essa seria a chance de fazer média e mostrar que uma de suas mais ferrenhas críticas à gestão Bolsonaro estava correta.
No entanto, como nem a imprensa que fazia escândalo com isso teve coragem de esconder por inteiro, não é o que aconteceu. No primeiro ano do petismo as mortes subiram de 343 para 363. Como o total de indígenas da etnia está entre 27,152 (IBGE) e 31.007 (SESAI), o índice de mortalidade varia entre 1,17 e 1,33%.
Os números são da Folha de hoje, que os compara, "por exemplo", com os da capital mais próxima, Boa Vista, cujo índice de mortalidade está entre 0,6 e 0,74%. Esses dados sempre são imprecisos aqui no Brasil, mas, na prática, a mortalidade é metade da verificada entre os índios.
Absurdo! Barroso vestiu sua super-capa e exigiu um daqueles relatórios. E o governo respondeu que a culpa é de Bolsonaro, Bolsonaro, mas vai resolver tudo. O presidente teria até reunido todos os ministros e determinado que essa é uma "questão de Estado" e eles não podem em hipótese alguma "perder essa guerra".
Mas já perderam, basta atravessar o oceano para saber.
Ninguém sabe o motivo, mas a mortalidade subiu um pouco na maioria dos países europeus depois da vacinação contra a covid. Deveria ter diminuído, mas aumentou. As explicações oficiais envolvem complicações da própria covid, o calor do aquecimento global etc. Tudo menos as vacinas, mas essa é outra história.
O que nos interessa é que a mortalidade não subiu tanto assim e a reportagem que trata disso usa dados confiáveis. Para resumir, vamos nos limitar a Alemanha, cujo índice de mortalidade em 2021 foi superior a 1,2%. Ou seja, morrem, ultimamente, mais ou menos o mesmo percentual de alemães e yanomamis.
Isso significa que pode até haver desnutrição e malária por lá, mas a mortalidade entre os índios não tem nada de especial. A comparação feita pela Folha é péssima porque Boa Vista cresceu quase 50% em menos de uma década. Evidentemente, isso se deveu à chegada de novos moradores, em geral jovens que vão demorar a morrer.
No Brasil como um todo, o IBGE diz que a mortalidade é um pouco menor que 1%. Mas outros dados sustentam que ela passa disso. E num país como os Estados Unidos está por aí, oscilando para um lado ou outro a cada ano. Uma mortalidade de 1,x% não tem nada de fantástico em si.
Imagine então numa amostra pequena e num caso como o dos yanomamis, que circulam entre o Brasil e a Venezuela. Basta que alguns poucos índios doentes venham buscar a melhor assistência médica do lado brasileiro e acabem morrendo por aqui para que o índice de mortalidade se eleve de repente.
Duvido que ninguém tenha percebido isso na chefia de nossos jornalões. O que acontece, creio, é que os caras ficaram presos à própria mentira, usaram as mortes entre os índios para fustigar Bolsonaro e agora não têm como voltar atrás e dizer que elas nunca tiveram, no total, nada demais.
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