A força de Bolsonaro está em ter unificado os BBBAA. BBB de boi, bala e Bíblia que são majoritariamente antipetistas e antiwoke. AA de Antipetistas Avulsos, aquele pessoal que não se enquadra nos grupos anteriores, mas é contrário ao esquerdismo por razões que vão da economia à liberdade individual.
Esses grupos já costumavam votar juntos, mas em candidatos AA que muitas vezes tratavam os BBB com certo nojinho. Com Bolsonaro, a turma do agro, da segurança e das igrejas se sentiu como parte do governo. E, com exceção de uma minoria AA com mais nojinho que inteligência, todo mundo se sentiu bem no arranjo.
Esse gênio não voltará para a garrafa. Erra quem imagina que depois de Bolsonaro (e da traição tucana) bastará arrumar um típico AA, de terninho e discurso centrado na economia, para reunir todo mundo de novo. Um candidato com esse perfil não chegaria ao segundo turno contra um mais próximo do BBB, que surgiria naturalmente.
Na verdade, sem um agregador tão bom quanto Bolsonaro, a tendência é que exista uma disputa interna entre os próprios Bs. Nesse jogo, a turma da segurança parece ter menos chances que a do agro. E, a médio prazo, devido ao constante crescimento dos evangélicos, a tendência é o pessoal da Bíblia comandar.
O percentual de evangélicos mais à direita está em torno de 70%, mas este número tende a aumentar conforme muitos entre os demais se informem melhor e percebam quem realmente é o ex-presidiário antissemita e sua gang de depravados. E aumentaria ainda mais com um candidato a cargo majoritário saído do meio.
Além disso, os 33% de evangélicos de hoje devem chegar a 50% em mais alguns anos e os católicos mais tradicionais já costumam votar tranquilamente com os evangélicos hoje. Reunindo esses fatos, o B da Bíblia poderá em breve controlar algo entre 35 e 40% do total de eleitores brasileiros.
Com o apoio dos outros B e AAs que não são tão religiosos, essa força eleitoral seria quase invencível, alijando a esquerda woke do poder em diversos níveis e transformando nosso país no que horrorizados acadêmicos esquerdistas já chamam, com um misto de exagero e menosprezo, de Crentistão ou nomes equivalentes.
Como evitar que os evangélicos tirem a extrema esquerda do jogo em definitivo? Na esteira da recente pesquisa que mostrou que o Brasil tem mais templos do que escolas e serviço de saúde, a famigerada Elaine Canhotede lançou na TV a solução salvadora: basta implementar uma regulação estatal das igrejas.
Absurdo, mas não inédito. Petistas do porte de Gilberto Carvalho e José Genoíno já defenderam ideias similares. E é claro que eles têm o apoio dos "evangélicos progressistas", uma ínfima minoria que prostitui os valores religiosos e, não conseguindo se impor aos demais pelo discurso, quer fazê-lo pela força.
Exemplo disso é a carta endereçada à cúpula petista em janeiro pela "teóloga luterana e jurista" Lusmarina Garcia, também publicada no Esgotão. Depois de lembrar sua submissão ao anticristo petista e listar os males das igrejas "fundamentalistas", ela foi ao grão: o Estado deve controlar as igrejas.
Claro que a sugestão é inconstitucional, ferindo de morte a separação entre Igreja e Estado. E é tão aberrante que eu duvido que, mesmo com o STF, o PT teria condições de fazer algo assim. Mas reitera como os delírios totalitários desses canalhas não têm limites. Controle, opressão, censura, é disso que o diabo gosta.
Você pode encontrar mais detalhes sobre as propostas da Lucifermarina aqui, mas um trecho de sua carta está copiado abaixo.
(...) essa realidade só pode ser de fato transformada com o estabelecimento de critérios tanto para a abertura de igrejas quanto para a formação das lideranças... O pensamento crítico precisa estar na base tanto de uma estratégia na área de comunicação quanto na formação educacional. Não me parece que haverá efetividade em uma campanha de comunicação direcionada aos evangélicos e às evangélicas se os conteúdos fundamentalistas não forem enfrentados. E para enfrentá-los, é preciso incorporar teólogos e teólogas que tenham a capacidade de elaborar argumentos bíblico-teológicos que promovam a releitura do arcabouço conceitual.
Naquilo que diz respeito à formação, entendo que o Ministério da Educação deveria ser o canal de estabelecimento de critérios curriculares para a formação teológica a partir do pensamento crítico, ou seja, os currículos dos cursos de Teologia ou Ciências da Religião precisam incorporar o método histórico-crítico como critério de formação. Para tal, faz-se necessário implementar avaliações sólidas dos currículos dos cursos de Teologia reconhecidos pelo MEC.
O Brasil não permite que a medicina, a advocacia, a antropologia ou a sociologia sejam exercidas sem que os profissionais da área passem por um curso de formação criterioso; por que os pastores e as pastoras podem? Pastores e pastoras são agentes da construção da consciência das pessoas, por isso, é imprescindível que sejam bem formados e formadas. Tal formação não pode continuar utilizando uma matriz fundamentalista. Ademais, cursos on-line de três meses são insuficientes para que alguém possa ser habilitado para o exercício do pastorado ou para a condução de uma organização articuladora da subjetividade das pessoas.
Minha proposta é a criação de um comitê composto por teólogos e teólogas que fará a revisão dos currículos dos cursos de formação a serem reconhecidos pelo MEC e que a formação adequada das lideranças seja um critério para a abertura de igrejas.
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