Recomendo a leitura de A verdadeira história do "milagre" de Paulo Freire, publicado na Gazeta do Povo por Eli Vieira (aqui), mas, pra pegá nossus pêxe, saio adiantando que o milagre realizado em 1961 seria a alfabetização de 300 adultos cortadores de cana em 45 dias através de um método inovador. Seria.
O método era plagiado, inexistia plantação de cana na localidade citada, o professor passava mais tempo "conscientizando" o aluno do que ensinando, uma média de 115 alunos comparecia a cada aula diária, os formandos foram apenas 122 e mal sabiam escrever o nome e ler algumas poucas palavras.
Como um terço dos 122 não passou na prova básica de letramento, os aplicadores do método mesclaram a nota desse quesito com a muito mais alta (87%) conquistada pelo grupo em "politização", aumentando artificialmente o resultado geral ao, como diz Eli, "reduzir o peso da alfabetização... num programa de alfabetização".
O truque mostra bem o que é o método e explica o amor que a esquerda tem por ele. O presidente João Goulart ministrou a última aula do curso e uma aluna lhe teria enviado uma carta em que menciona a reforma agrária e diz que "não sou mais das massas, pertenço ao povo e posso defender meus direitos".
Se foi ela quem escreveu não importa, foi isso que a imprensa contou. Numa reportagem com jeitão de encomenda paga, a revista O Cruzeiro lançou a mentira dos 300 plenamente alfabetizados e explicou que o método só era ruim para os "maus políticos e os comunistas". Tradução: os comunas perderam, fique tranquilo.
Se hoje a imprensa mundial vai na onda da nacional, imagine na época e com o apoio dos esquerdistas desde sempre infiltrados nas redações. A história correu o mundo e garantiu ao folclórico barbudão uma quantidade de títulos honoris causa de fazer inveja ao atual persona non grata.
Não que alguém tenha usado seu método. Como a urna eletrônica, o pessoal só o elogiou à distância e continuou preferindo alfabetizar as crianças em escolas regulares. Mas a novelinha melosa de superação popular num país da periferia lhe garantiu um lugar cativo no coração do típico acadêmico esquerdista.
O método sempre foi uma boa propaganda do alegado humanismo da esquerda. Porém a canhota nativa tinha nele um interesse mais prático, que envolvia a conquista do poder e não se limitava à doutrinação do aluno. Aquela frase marota sobre os comunistas não foi inserida na revista por acaso.
Conforme informa Eli, naquela época os nossos partidos de esquerda estavam tentando, sem sucesso, estender o direito de voto aos analfabetos. Se houvesse um meio de alfabetizar rapidamente essas multidões (ou de considerá-las alfabetizadas), o peixe seria pescado igual, o resultado final seria o mesmo.
Não deu certo, o pessoal não participava dos cursos, a evasão era altíssima, veio a Revolução de 64... Mas não teve problema porque os analfabetos ganharam o direito de votar através da Emenda Constitucional 25, promulgada em 1985, no início do governo Sarney.
A esquerda sabia o que fazia. Foi a partir dessa mancada histórica que figuras como um certo sindicalista picareta deixaram de ser ridicularizadas por seus erros de português e passaram a ter condições de disputar os cargos mais altos. Ainda hoje, se você retirasse os analfabetos da equação, o Molusco não ameaçaria ninguém nas eleições.
Comprova-se assim aquilo que a gente sempre repete. Como foi avisado no início, eu ia pegá meus pêxe nu fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário