No mercado informal, o único onde se pode conseguir tais produtos, uma bandeja com 30 ovos é vendida por 3.000 pesos. Ou seja, cada ovo custa 100 pesos, pouco mais de 20 reais. Caríssimo, pois por aqui você pode comprar os trinta por esse valor. Mas isso não é nem de longe o pior.
O pior é que o salário mínimo, com o qual vive teoricamente a imensa maioria da população, está em 2.100 pesos (cerca de 420 reais), permitindo, portanto, a aquisição de 21 ovos por mês.
Se os ovos estão caros comam carne, diria Maria Antonieta. O problema é que seu consumo é proibido pelos líderes. Não porque eles sejam hinduístas ou vegetarianos, mas porque não tem mesmo. Como o rebanho da pequena ilha é insignificante, a carne bovina é reservada para os turistas. Picanha só para quem vem de fora.
Ah, mas é uma ilha, pensaria a soberana, basta pescar. Também não pode, pelo menos não muito longe da costa e com barco muito potente. Não para proteger a vida marinha e coisas do gênero, mas porque o governo teme que os pescadores acabem fugindo e sendo explorados em algum outro país.
Que governo bondoso, insistiria a rainha, concluindo espertamente que se eles não produzem nada é porque devem dar prioridade a algo como o turismo, que isso lhes proporciona uma grande arrecadação e lhes permite distribuir alimentos diretamente à população. E as duas suposições são verdadeiras, mas...
A caderneta que dá direito a retirar uma quantidade de alimentos por mês prevê coisas como vinte ovos, três pães e um pedaço de peixe por pessoa. E ainda é preciso torcer para encontrar o peixe ou, mais raramente, a "carne", mistura de carne de porco moída com soja. Mesmo economizando, a quota mensal dá para menos de três semanas.
E no turismo as coisas estavam indo relativamente bem, permitindo inclusive que cidadãos e cidadãs faturassem algum por conta própria com atividades paralelas como a prostituição, amplamente difundida. Mas um tal Trump apertou o laço do bloqueio. E a pandemia que veio a seguir fez os visitantes estrangeiros sumirem de vez.
Restou aquele porto moderno, generosamente bancado por amigos de outros países. Mas mais da metade dele está às moscas, à espera de um movimento que nunca houve. Ter porto sem ter o que comprar ou vender não resolve muita coisa além da vida dos que faturaram com a sua construção.
Mas o povo não reclama. Afinal, protesto contra o governo poder dar 20 anos de cadeia agora que deixaram de fuzilar os chatos. E depois de 65 anos, comemorados no início desta semana, já existem pelo menos duas gerações que nasceram dentro desse sistema e o consideram a vida normal.
Normal, tranquila, um tanto bucólica. Carros dos anos 50, internet censurada, difícil e cara. TV com programa estatal, telefonia falha. Num toque de romântico saudosismo, em alguns hotéis eles têm até telefonista que completa a ligação para o hóspede que a atende em uma cabine.
Está duvidando? Vai pra lá pra ver.
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