quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

A liberdade avança

Com todos os problemas que os EUA possam ter, não dá para negar que liberdade é com os caras mesmo. Isso passa pela grande independência legislativa dos seus estados, que inclui o direito de cada um deles manter seus próprios sistemas de votação e se reflete na maneira como seus grandes partidos escolhem seus candidatos.

Em Iowa, vimos agora com os republicanos, são as reuniões do caucus. Em New Hampshire, segunda etapa da jornada, a curiosidade é que pessoas não filiadas ao partido também podem votar nas prévias. Parece uma coisa meio louca, uma democracia até demais, mas com certeza tem uma lógica consistente por trás.

New Hampshire também tem um bom nível educacional, 90% da população completou o secundário e 40% tem curso superior. E como considera que o perfil do eleitor trumpista é o inverso disso, a mídia mainstream esperava que a união entre educados e não republicanos (que realmente compareceram em grande número e votaram em Nikky Haley) resultasse na derrota de Trump.

Seria uma luz no fim do túnel, o começo do fim do sujeito que além de querer destruir o mundo ainda fala palavrão - a propósito, Nikky declarou que candidatos com mais de 75 anos deveriam passar por um teste para provar que não estavam senis, mas no caso dela isso não é agressivo; é incisivo, dizem os jornais.

No entanto, não rolou. O Laranjão venceu e o desespero se instalou nas hostes daquela imprensa que se convenceu de que deve conduzir a humanidade. Os antigos jornalistas se limitaram a noticiar o que as pessoas faziam, cabe-nos agora ensinar o que elas devem fazer, poderia dizer o barbudo alemão.

Hoje as lágrimas americanas chegaram aos nossos jornais. Representando o New York Times, Frank Bruni reconhece, no Estadão, que eles tentaram se convencer de que coisas como o 6 de janeiro ou eleitores mais educados derrubariam Trump, mas tudo não passou de uma ilusão "que acaba de desvanecer".

Na Folha, outro colunista do NYT, Charles M. Blow, constata que os negros como ele estão abandonando Biden e implora que o atual presidente energize seu discurso sonolento ou dê um jeito de mostrar que "a eleição deste ano será entre um candidato que pode decepcionar e outro que pretende destruir".

Porém a mais irritada - e divertida em sua agressividade - é a brasileira Lúcia Guimarães. Seu artigo começa com o título "Primária em New Hampshire mostra estado educado que escolheu ignorância" e continua com "Resultado serve como alarme para situação da política eleitoral e do zelo pela democracia nos Estados Unidos".

No texto, ela diz que seus coleguinhas chegaram a ir a campo para tentar conhecer aquele estranho eleitor que foi de Trump na primeira vez, que eles passaram anos fazendo o possível para lhe abrir os olhos e mostrar como o sujeito era horrível. Mas nada adiantou, eles não conseguem entender.

Bom, Lúcia, sem querer esgotar o tema, eu diria que tem cada vez menos gente disposta a viver num mundinho pasteurizado, dominado por grandes corporações privadas ou estatais e por jornalistas que, como tias chatas de antigamente, querem ensinar como as pessoas devem se comportar e até o que devem dizer.

Ninguém aguenta. E deve aguentar menos ainda no país do pioneiro que desbravou sozinho a ampla terra à sua frente e deu um chute na bunda do rei. Você não quer admitir, Lúcia, mas Trump representa antes de tudo liberdade. E liberdade, com todos os problemas que eles possam ter, ainda é com os EUA mesmo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário