segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Os monstros

Nossa imprensa informa, com indisfarçável horror, que ele é um ultradireitista. Mas o que faz exatamente o Viktor Orban? Censura, prende por opinião, mata quem prendeu? Tenho receio de que se trate de algo tão terrível que lhes falta coragem para contar, mas o fato é que nossos jornalistas se esquecem de oferecer esses exemplos.

Tudo que se sabe é que seus amigos teriam adquirido jornais e emissoras de TV para formar um cartel (consórcio, diríamos aqui) que sempre o apresenta de modo favorável. Ou que ele continua a permitir o aborto como na era socialista, mas obriga a gestante a ouvir o coração do bebê antes do procedimento.

Não importa. Ele é um dos novos monstros da maioria da imprensa. Ele, Le Pen batedora na trave, os que chegaram agora como o holandês do cabelo estranho e Milei, Giorgia Meloni, nosso Jair Bolsonaro... e, evidentemente, o líder supremo, o mais poderoso de todos eles, Donald Trump.

Ele parecia ter sido destruído, mas, como nos filmes de vampiro, ressurgiu das cinzas para assombrar novamente a humanidade. Nem o aquecimento global é tão assustador. Tanto que The Economist acaba de alertar em um artigo publicado em português pelo Estadão: Donald Trump é o maior perigo para o mundo em 2024.

Eles começaram a se dar conta de que ele pode vencer a próxima eleição, diz o texto, virando o mundo de cabeça para baixo. Virar o mundo é grave, mas parece que se trata apenas de força de expressão. Você precisa continuar lendo para entender as maldades que esse radical pretende fazer.

Sim, pretende. Ele já esteve lá durante quatro anos e tudo continuou mais ou menos igual, mas as previsões apocalípticas que precederam sua primeira eleição agora se tornarão realidade. O jornalismo atual é diferente, ao invés de relatar o que se passou ontem antecipa o que acontecerá amanhã.

Assim, The Economist assegura que desta vez será muito pior. Reconquistando o poder após seu "negacionismo eleitoral", Trump transmitirá a mensagem de que o negócio é ser esperto e só os otários devem seguir as regras, o que abalará definitivamente os valores sobre os quais é construída uma grande nação.

Ele também está mais preparado, conta hoje com um exército de seguidores que dominam boa parte do Partido Republicano e deverá encher o governo de trumpistas que enfrentarão agressivamente os que tentaram e tentarão boicotá-lo. Um presidente nomeando aliados e se defendendo dos inimigos, onde já se viu?

No plano externo, o desastre será ainda maior. Ele não dará a mínima para as mudanças climáticas. Fará de tudo para defender Israel e acabar com a guerra da Ucrânia. E tanto pode se acertar com a China e sacrificar Taiwan como ouvir seus falcões e encarar os vermelhos com consequências catastróficas.

Talvez o mundo sobreviva, mas, com o naufrágio de sua antiga baliza, a hecatombe moral será inevitável. Ao ver que os EUA chegaram a esse ponto, ninguém mais se preocupará em manter as aparências. Autocratas prepotentes surgirão em cada canto do planeta, com sorrisos cínicos e regras próprias. O caos se instalará.

E The Economist não disse, mas a gente acrescenta. À noite, quando as pessoas boas que não merecem nada disso pensarem que podem descansar nos seus lares, Trump entrará pelas janelas para sugar o sangue de seus pescoços e meter a mão nos peitinhos das moças.

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