Emebealazar pode ter sido o primeiro isentão, mas, como previa o general assírio, seu trágico fim não impediu que essa linha de pensamento se disseminasse como uma praga e acabasse chegando a outras sociedades. Na Roma Antiga, por exemplo, há registros de vários casos de isentismo.
Um deles foi Turíbio, o Virtuoso, que não admitia falha alguma nos demais. Numa eleição para cônsul, começou por apoiar entusiasticamente a Caius Janos, mas o abandonou após descobrir que este costumava mentir. "Todo político mente", lhe disseram. "Não o que quiser contar com meu valioso apoio", ele respondeu.
E assim Turíbio seguiu, pulando de candidato em candidato até chegar a Sergius Justus, que lhe parecia, como todos os outros em seu momento, encarnar os mais elevados ideais. Mas bastou que lhe contassem que Sergius havia sido visto aos abraços e risadas com o famigerado Flavius Obesus para que ele também o negasse.
No final restaram apenas dois candidatos, um que permitia que todos se expressassem e outro que pretendia criminalizar opiniões. Sendo Turíbio um pensador, esperava-se que apoiasse o primeiro. Mas ele o descartou peremptoriamente, proferindo a frase que o tornou famoso: "Não chega aos meus pés, não é virtuoso como eu."
Ninguém era. Turíbio ainda tentou criar um movimento político próprio, recrutando jovens imberbes que doutrinava para nada aceitarem aquém do ideal. Mas seus discípulos o abandonavam quando chegavam à idade adulta. Ou eles os expulsava antes, ao perceber qualquer sinal de falta de pureza.
Acabou seu dias no campo, na propriedade herdada da família, totalmente isolado. Nenhum ele considerava bom o bastante, vendeu todos escravos. Nenhuma mulher atendia às suas exigências, nunca se casou. E se tentasse também não conseguiria, pois as romanas o chamavam entre elas de Turíbio, o Estranho.
Vivendo na mesma época, Tarquínio, o Detalhista, foi um isentão que notabilizou-se por dar atenção a detalhes irrelevantes. Escritor compulsivo, acompanhou a campanha de Júlio César na Gália, mas, se dependesse dele, ninguém saberia se o grande general conquistou alguma coisa ou não.
"O manto de César está manchado na ponta, não foi bem lavado", "o embaixador arrotou durante o jantar", "aquele gaulês que se entregou precisava tomar um banho". Nada mais lhe interessava, Tarquínio passava os dias procurando e registrando defeitos como esses, que, naturalmente, encontrava em todos.
Para surpresa de ninguém, não teve muito sucesso como autor. Mas, paradoxalmente, sua obra foi uma das que mais resistiu ao tempo. Cópias de quase todos os seus escritos foram encontradas, muito bem guardadas, milênios depois. Estavam entre as ruínas da propriedade de Turíbio, aparentemente seu maior leitor.
A ideia de continuar no tema veio ontem à noite, quando passei pelo X do MBL e encontrei um tal Orlando, que era tratado por outros como uma espécie de ideólogo e dava a linha que eles não podiam esquecer de manter: primeiro derrubar o bolsonarismo para assumir a hegemonia da direita, depois derrotar o petismo. 😂😂😂
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