sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

O inimigo agora é o mesmo

"Seria uma espécie de analogia (com a proposta do PL da Censura, PL 2630): se a plataforma deve ser responsável pelo conteúdo dos usuários, a imprensa deve ser responsável pelo conteúdo ilícito dos entrevistados", diz a matéria da Folha de hoje sobre a nova lei criada pelos sábios do STF.

A pulguinha que ontem gritava "e a internet? e a internet?" já está dizendo "eu não falei? eu não falei?", toda feliz por ter percebido que o verdadeiro inimigo do consórcio PT/STF é a liberdade nas plataformas. Bastará agora fazer o caminho de volta e aplicar o conceito a quem se pretende realmente atingir.

O Globo já estava tranquilo ontem. O Estadão se acalmou no editorial de hoje. Amanhã a Folha também se aquietará. Devem estar recebendo garantias de que são da casa e nada lhes acontecerá. A necessidade de um juiz determinar o que é verdade será usada a seu favor na instância maior.

Quem deve temer são os poucos rebeldes da imprensa convencional. E o pessoal da internet. O PL da Censura não passará, a reação foi forte. Eles o fatiarão e aprovarão aos poucos através do STF. Eles são bolivarianos, não desistem nunca. Se não dá neste referendo se faz outro, se os deputados não se abaixam o judiciário entra em ação.

Como fazer nas redes?

Retornando à malandra distinção entre liberdade de imprensa e de expressão, o "especialista" ouvido pela Folha, André Marsiglia, avaliou que "a analogia com a internet não é pertinente, uma vez que, diferente da manifestação individual em rede social, a liberdade de imprensa seria um direito coletivo, relativo à liberdade de informar".

Não sei exatamente que intenção ele teve ao dizer isso, mas uma tradução de suas palavras poderia ser: o indivíduo não precisa ter voz porque a imprensa fala por ele. Podemos voltar aos bons tempos em que só havia os jornalões, a internet servirá apenas para lê-los no celular.

De qualquer modo, do ângulo operacional o problema é inverso. Se a entrevista não for ao vivo, o jornal pode checar uma ou outra declaração de um entrevistado antes de publicá-la. Mas como a rede social vai controlar previamente milhões de postagens diárias? Ela teria que sair cortando quase tudo para cumprir a regra.

Como não conseguiria, talvez tivesse que ser retirada do ar. Isso causaria um escândalo internacional? Eles já tiveram essa ideia e não causou nada. E a medida poderia ser temporária. Eles poderiam adotá-la apenas na época das eleições, quando, segundo a atual mitologia, as fake news explodem para confundir o eleitor.

Então eles ainda poderiam dizer, naqueles simpósios em que discutem problemas brasileiros em países de Primeiro Mundo, que são imparciais porque cortaram a todos por igual. E os estrangeiros ficariam tão maravilhados com essa solução como ficam com a urna eletrônica segura que nenhum deles consegue fazer igual.

É o que você leria no jornal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário