Ambos aparecem com certa frequência na Folha. Colunista do prestigiado New York Times "desde 2008", Charles M. Blow é americano (afroamericano, talvez ele prefira) e acaba de escrever um artigo cujo título já revela o que o angustia: "Eleitores têm impulso autodestrutivo e cortejam ruína dos Estados Unidos".
É apavorante, desabafa Blow. Os eleitores não valorizam o retorno à normalidade e as demais realizações do maravilhoso governo Biden, não dão ouvidos aos alertas de pessoas conscientes como ele e seus colegas, parecem cada vez mais dispostos a retomar o pesadelo que foi o terrível Donald Trump.
O jornalista acrescenta que a culpa disso é, em parte, da vitória que eles tiveram ao derrotar Trump em 2020. Como o malvadão saiu depois de quatro anos e o mundo continuou mais ou menos igual, o pessoal passou a achar que não tinha nada demais deixar alguém como ele ocupar a presidência.
Mas tem, mas tem. Blow não expõe seus motivos, mas diz que desta vez será pior, talvez a democracia não sobreviva a um segundo advento do Grande Satã. Tamanho é seu desespero que, no final, ele chega a levantar a hipótese de descartar Biden e sair em busca de alguém que, ao estilo da nossa terceira via, não sabe quem é.
Lúcia Guimarães também "vive em Nova York desde 1985" e, como esperado para quem se apresenta com essa informação, considera-se quase americana. Tanto que, apesar de mesclar petulância e tacanhez como o de qualquer típico integrante da grande imprensa brasileira, seu discurso é muito próximo do de Blow.
Seu tema recorrente é a divisão do país. De um lado estão as pessoas instruídas, inteligentes e tolerantes para quem a humanidade deve continuar a progredir. Do outro, os ignorantes rancorosos como os da imagem acima, que seriam cômicos se não recusassem a orientação dos primeiros e insistissem em eleger um monstro.
Seu penúltimo artigo aborda a migração interna por motivos políticos e comportamentais, possível porque cada estado americano possui grande independência. O assunto é interessantíssimo em si, pois pode levar ao surgimento de países cada vez mais distintos dentro do mesmo país, mas Lúcia o vê através de seus antolhos.
Assim, ela esquece o pessoal que se afasta dos altos impostos e da insegurança das "nações" democratas. E romantiza os que fogem das dominadas pelos adoradores do moloch laranja para viver onde há aborto livre e educação ao estilo das reitoras lacradoras que esta semana passaram vergonha no Congresso.
Outra informação importante está em seu artigo mais recente. O paralelo não é perfeito, mas os evangélicos americanos que podem ser comparados aos brasileiros têm números próximos destes: correspondem a 25% da população e, para desespero de Lúcia, votam convictamente em Trump numa proporção de 70%.
Claro que ela apresenta esses dados em meio à história de um jornalista que foi criado dentro da igreja e, após se sentir agredido pelos trumpistas que hoje a dominam, escreveu um livro para lhes mostrar que sua fé é incompatível com o apoio àquele aventureiro grosseiro que quer acabar com a democracia e a própria nação.
Lúcia deve ter se identificado, pois também tenta convencer seu leitor disso. Não entende, coitada, que esse é o problema. Dela, do Blow e de toda a sua turma. Eles falam ao invés de escutar, são jornalistas que desaprenderam a observar. Querem ensinar quando deveriam baixar a bola e aprender.

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