sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Todo muro cai

Anos 80, Figueiredo presidente, Falcão fazendo o segundo gol contra a Itália, novas bandas de um novo rock, novos penteados das mulheres, povo na rua, Tancredo, Sarney, Plano Cruzado. Mas esse fundo dinâmico, sobre o qual nossas vidas se transformavam rapidamente, deixaria sua maior mudança para o final.

Foi em 10 de novembro de 1989, há exatos 34 anos, que o Muro caiu. Na verdade foi na noite de 9 para 10 e lá é mais cedo, mas, sem internet, a gente só soube que ele estava sendo derrubado ao ver o jornal na banca e só teve certeza ao ouvir a notícia no rádio ou assistir o Jornal Nacional à noite.

Que muro? Quem não viveu naquela época poderia perguntar. Mas para nós, que nascemos nas primeiras décadas depois da guerra, nunca existira outro mundo. Os Estados Unidos e sua turma estavam de um lado, a URSS e a dela do outro. No meio, em Berlim, havia um muro, o Muro.

Rebobinando um pouco a fita: que guerra? A grande, aquela em que o senhor do quarteirão de baixo foi lutar, durante a qual sua avó não deixava sua mãe pequena sair sozinha por causa das tranças loiras. A guerra do Hitler, da bomba atômica, dos filmes. Havia a do Vietnã e outras, mas a Guerra era uma só.

Avançando novamente a fita: o Muro marcava o limite entre os dois opostos, era um símbolo e um microcosmo. Em torno dele giravam algumas das mais fascinantes histórias de espionagem, muitos arriscaram a vida para cruzá-lo em busca da liberdade, não poucos a perderam na tentativa.

Sabia-se que o Gorbatchov pretendia modificar algumas coisas, que havia protestos por lá e coisa e tal. Mas a gente acompanhava aquilo à distância, pensando que as alterações seriam ao estilo da nossa abertura "lenta, segura e gradual". E aí, de repente, o Muro veio abaixo. Numa noite, tudo mudou.

Meses depois a Alemanha Oriental foi oficialmente absorvida pela Ocidental. Em mais algum tempo a União Soviética se dissolveu e os países da antiga Cortina de Ferro puderam deixá-la. Alguns foram e voltaram, sem mudar tanto assim. Mas aquele mundo que parecia eterno nunca mais foi o mesmo.

Por aqui faltavam cinco dias para a primeira eleição presidencial de nossas vidas. Guilherme Afif, candidato do PL, passou a apresentar imagens das pessoas pulando o muro ao som de "Pula Lá", paródia do famoso jingle do concorrente esquerdista.

Este correu a dizer que não tinha nada com aquilo. Mentiu como sempre, pois havia confessado à Playboy que seu país ideal era a Alemanha Oriental. Mas a imprensa companheira o protegeu e não havia como evitar suas manipulações.

Entre o primeiro e o segundo turno, os sequestradores do Abílio Diniz, membros do MIR, foram presos com material do PT. Outro desmentido do sindicalista malandro, outra mentira. Meses depois ele fundaria o Foro de SP com o criminoso Fidel. E lá estava o MIR, cujos integrantes os petistas lutariam para libertar nos anos seguintes.

Mais de uma década depois, a criatura nefasta chegou ao poder. E ainda voltou após a merecida prisão. Se você nasceu neste milênio ele pode lhe parecer eterno ou uma luz maléfica que só se apagará aos poucos. Mas, acredite, surpresas boas também acontecem. Num instante, tudo que é ruim pode desmoronar.

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