quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Novembro negro

"Quem que é macaquito aqui, mérmão?" O nosso departamento de leitura labial conseguiu descobrir o verdadeiro motivo da confusão de ontem no Maracanã. Em pleno mês da consciência negra, houve um momento em que os guardinhas não suportaram as reiteradas ofensas e desceram o cassetete nos gordões argentinos.

Mas não pense que recorrer à força cause satisfação aos nossos afropoliciais. Pelo contrário, isso os faz recordar das agressões seculares que seus ancestrais sofreram e se torna outro motivo para que o colunista do UOL, André Santana, possa dizer que "ironicamente, novembro vem causando mal-estar em pessoas negras".

O problema de André não são as ofensas, são, "ironicamente", as homenagens. Começa novembro e aparecem as palestras, as mesas-redondas, as reportagens de jornal e tudo o mais. A agenda do militante negro fica lotada, ele tem que se multiplicar para atender a todas as solicitações.

E isso não é bom? Ele não quer visibilidade e espaço para falar de sua causa? Sim, mas a questão é que ninguém quer meter a mão no bolso. Pô, eles são negros profissionais, vivem disso, nada mais justo que sejam recompensados por seus esforços. Me pague para me homenagear, fica aqui registrada a reclamação do André.

Nada acontece por acaso. Eles não poderiam conscientemente imaginar quando escolheram a data, mas o Universo fez com que o dia do velório do preso político morto na Papuda fosse o mesmo em que o Molusco, cuja eleição altamente duvidosa está na origem de tudo, concedesse a Ordem de Rio Branco às abjetas figuras ao seu lado.

Cleriston era quase tão negro quanto a imbecil que estaria berrando se ele fosse militante de esquerda. E o ministro que deveria cuidar dos direitos humanos, calado e deslumbrado como de hábito, não se constrangeu em ficar ao lado do algoz desse e de outros tantos brasileiros indefesos. Quantos mais morrerão? Não lhe interessa.

O Zanin também aparecia na foto, mas eu o cortei porque o cara, afinal, não fez mais que o seu trabalho de advogado. São esses aí, Universo, agora é com você. Como fez ontem a Paula Schmitt, estou entregando o caso às forças superiores. É bem melhor que confiar no senso de justiça do Pacheco.

E também eu não espero, nem quero, soluções muito rápidas. De pouco adiantaria agora um (extremamente improvável) impeachment do Xandão, pois o seu substituto seria escolhido pela própria encarnação do mal. O melhor que os políticos podem fazer por enquanto é anistiar os presos pelos protestos de janeiro.

Falando nisso, foi também a Paula quem recordou ontem (está lá no seu X), aquele filmezinho em que a Rosa Weber elogia a humanidade do colega careca e mente que os presos em questão o aplaudiram e chegaram a rezar com ele. Zombaria e sadismo de fazer inveja àquele pessoal que preferia campo de concentração.

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